segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Gratidão

Compartilho com vocês um trecho do Culto de Ação de Graças aos meus 40 anos, celebrado no dia 23, na Comunidade Evangélica Integrada da Amazônia da Alcindo Cacela. Neste momento, li algumas palavras que escrevi para resumir o meu sentimento de felicidade e a minha gratidão. Sempre é bom agradecer a Deus, à família e aos amigos! Confira o vídeo e o texto na íntegra:



Gratidão
O aniversário de quarenta anos costuma ser tratado como um marco na vida de um homem. Há um ditado popular que diz que a vida começa aos quarenta. Nesta perspectiva, estou, então, entrando em uma nova etapa de minha vida. Normalmente não ligo muito para datas de aniversário; e poucos aniversários comemorei em minha vida. Mas este tem algo de especial. Provavelmente pelo simbolismo dos quarenta anos.
Em paralelo com os preparativos para a festa, me propus em caráter intimista a fazer uma reflexão sobre o passado. Algo que para mim não é natural, na medida em que sempre me pautei pelo amanhã.
A primeira pergunta que me fiz foi: - E se eu morresse hoje?
A única coisa que me veio foi um sentimento de gratidão e paz. Acho que já poderia morrer hoje com sentimento de que tudo valeu a pena e a certeza da vida eterna. Não estou desejando morrer, mas vivi estes primeiros quarenta anos com tanta intensidade que estou me sentindo como se já, mesmo sendo ainda jovem, estivesse vivendo horas extras. Um sentimento de que tudo a partir de agora é lucro.
Inúmeras lembranças vieram à minha memória nos últimos dias. Fotografias de uma vida que começam a fazer todo o sentido quando elas integram um filme que fala de esperança, superação, fé, paixão e amor. Esperança de que um dia alcançaria sonhos e projetos que em certo momento estavam muito distantes. Superação, pois para alcançar estes sonhos e projetos foi mais do que necessário vencer as minhas próprias limitações. Fé porque a crença e a esperança depositadas no Deus Altíssimo fizeram com aqueles sonhos e projetos se tornassem realidade. Paixão, talvez a palavra mais adequada para representar o combustível que movia as ações do dia a dia. Paixão pelo que fazia, paixão pela profissão, paixão pelas pessoas. E o amor, que hoje se expressa na palavra família; e em especial Carolina.   
A paz, a felicidade, a segurança que sinto são resultados do sentimento de que houve um sentido de propósito em tudo o que foi feito, o que está sendo feito e que ainda sonho em fazer. Somo a isto a clara sensação de pertencimento a pessoas e lugares.
Não satisfeito me fiz uma segunda pergunta: - O que a vida me ensinou?
Creio que a principal lição que logrei até o momento foi a de que o tempo todo estamos exercitando o nosso livre arbítrio e fazendo escolhas. E mais importante do que poder fazer escolhas é saber como fazer as escolhas certas. Há, portanto, um conjunto de princípios que ao longo dos anos fui construindo e que me ajudam hoje a fazer escolhas melhores.
Fazer o que é certo não é normalmente fazer o que é mais fácil. É melhor ser responsável do que ser querido. Precisamos aprender a dizer não. Nada é mais importante do que os seus valores e a sua crença. Melhor é desagradar a alguém do que romper com os seus princípios. Se é para sonhar, por que não sonhar alto? Mas não basta apenas sonhar. É fundamental manter o foco e se cercar de pessoas boas e, principalmente, de boas pessoas, se possível espiritualizadas.
Dificuldades e obstáculos certamente aparecerão no caminho, mas é preciso manter a visão fitada no alvo. A visão serve como uma inspiração diária na jornada, mas a disciplina é que o que nos conduz ao nosso destino. Em alguns momentos o vento sopra contra nós. Esta é a melhor hora para provar a nós mesmos que aquele sonho tem valor; para isso é necessário pegar o remo e remar contra a maré e contra todos se assim for necessário.
A palavra convence, mas o exemplo arrasta. O verdadeiro líder não empurra, vai na frente. Não podemos ter medo de errar, precisamos de ousadia, inventividade, criatividade, coragem, determinação e de muita insistência. As situações vão deixando claro as pessoas que irão remar com você ou aquelas que apenas querem uma “carona”. Não há vitória sem luta e honra sem sacrifícios. Mas é necessário, também, ter sabedoria para saber mudar de direção quando se percebe que se está no cominho errado.
Ressignificar é uma palavra para ser aprendida e incorporada no dia a dia. Pequenas conquistas precisam ser reconhecidas e valorizadas, pois mostram que estamos no caminho certo. Precisamos aprender a dar valor ao que temos, mesmo as pequenas coisas. Ainda sobe as coisas, elas não são mais importantes do que as pessoas. Não podemos perder a sensibilidade para o que é humano. A luta por uma sociedade mais justa, inclusiva e igualitária deve permear todos os nossos projetos e atitudes.
O tempo “perdido” não é necessariamente perdido quando o perdemos ao lado de pessoas especiais. A família precisa estar sentada com você no ponto de controle e comando da navegação; e não sentada no “porão da embarcação”. Toda rota de navegação precisa ser definida pela nossa Estrela Guia, o Deus Altíssimo. Navegando sob orientação deste Deus, não tenho dúvidas de que, cedo ou tarde, alcançaremos o “porto seguro” dos nossos objetivos, e a paz que só Jesus Cristo pode dar.
Certa afirmação popular diz que antes de morrer o homem precisa fazer três coisas: plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho. Segundo este adágio mais uma vez me sinto fazendo hora extra. Já plantei dezenas de árvores, escrevi alguns livros e tenho três filhos – um menino e duas meninas.
Gosto de plantar árvores. Não sou um bom jardineiro e confesso que tenho preguiça para mexer com plantas, apesar de gostar disto. Sei que é um paradoxo, mas acho que todos nós somos formados por inúmeros paradoxos.
Gosto de escrever, já publiquei alguns livros, mas não tantos quantos gostaria. Infelizmente nos últimos anos o excesso de atividades está me tirando da tarefa prazerosa de escrever. Não sei se promessas de aniversário contam, mas acho que vou me prometer que tentarei ter um pouco mais de disciplina neste ponto. Tenho alguns projetos de livros a serem escritos e realmente não gostaria de partir sem tê-los feito. Aqui acho que estou sendo contraditório, mais um paradoxo, pois todo bom trabalhador só recebe por hora extra quando o seu expediente está encerrado. Acho que ainda não encerrei o meu expediente, ainda.
Finalmente, apesar de sonhar em ter mais um filho, a vida me deu três lindos e maravilhosos filhos: L, M e N. L de Laura, M de Maria Eduarda e N de Nuno Eduardo. Ainda falta a letra O, que segundo a Laura seria para a Olívia, mas ainda precisamos convencer a Carol a ter mais um Dudu!
Mas voltando aos três lindos filhos que Deus me deu até o momento, é curioso como os três são totalmente diferentes. E se há um legado que quero deixar para eles é que vivam a vida com paixão, verdade e intensidade. Que se guiem por uma conduta ética e proba. Que cultivem um bom caráter. Que sejam leais aos seus amigos e aos seus princípios. Que jamais abandonem ou se distanciem da sua família. E, acima de tudo, que amem a Deus sobre todas as coisas.  
Longe de ser um filósofo. Desde cedo me perguntava qual seria o segredo da felicidade. Com o tempo passei a entender que a felicidade é um “estado de espírito”. Definitivamente a felicidade é uma questão de escolha. Escolhemos sermos ou não felizes. Depende fundamentalmente de nossas decisões e da forma como encaramos o mundo. Sem embargo, três colunas se tornam necessárias para a construção de uma vida com propósito, plena, e, portanto, feliz. E estas três colunas precisam estar em equilíbrio: realização profissional, harmonia familiar e uma vida intima e relacional com Deus.
Passo as apresentar a seguir em ordem de importância.
A realização profissional é parte da existência terrena do homem. É o que o faz se integrar e se sentir útil à sociedade, ao mesmo tempo em que lhe permite condições de sobrevivência material. Mas não existe sucesso profissional sem foco, dedicação, sacrifício e uma alta dose de planejamento pessoal. Desde os meus quinze anos já havia definido o que queria ser. Sonhava fazer mestrado e doutorado e ser professor de economia de uma universidade federal. A docência se apresentava para mim muito mais do que uma profissão, mas como uma vocação e um sentido existencial, que me permitiria tocar pessoas e transformar vidas.
Nesta jornada, determinado a alcançar o meu objetivo, abri mão durante muito tempo do que não era essencial. Enquanto alguns se divertiam com a mira no curto prazo eu estava estudando e olhando para o longo prazo. Durante muito tempo tive a impressão de que a vida estava passando e eu não a estava vivendo. Tomei decisões duras e difíceis. Tive oportunidades, mas não eram as que sonhava. Rejeitei-as na certeza de que tinha um objetivo. Passei dificuldades, restrições, senti solidão, coisas que muito pouco compartilhei com alguém. A vida me fez uma pessoa muito reservada em minhas questões pessoais. Tenho um único e grande confidente, que me viu por alguns breves instantes ter dúvidas, entrar em crise, chorar de solidão, mas que esteve o tempo todo presente comigo. Mas Dele eu falo daqui a pouco.
Hoje, olhando para trás, a sensação é de que tudo valeu a pena. Não há no mundo profissional a palavra sorte. Existe a recompensa de quem plantou no tempo certo e a certeza de que toda a colheita é resultado de uma atitude. Hoje tenho um sentido de propósito profissional e a sensação de que não preciso provar mais nada a ninguém. Livros, comendas, prêmios, títulos, cargos, são resultados de uma colheita abundante de alguém que plantou e teve a fé de que “Outro Alguém” mandaria na “estação certa” chuvas em abundâncias. 
A segunda coluna é a harmonia familiar. Recentemente, na frente de uma Catedral em Bordeaux, uma cena me marcou profundamente. O sino da igreja badalava anunciando que a hora da missa havia chegado e em direção ao templo um casal de velhinhos caminhava lentamente em harmonia, com passos pequeninos, de mãos dadas. Seguramente ambos tinham mais de noventa anos. Ele curvado pelo peso da idade e ela frágil, mas ao mesmo tempo firme, ao seu lado. Não precisavam dizer mais nada. Naquele lento e melódico caminhar estava estampado o significado da palavra amor: amizade, lealdade, cumplicidade, companheirismo e união. Além de parar para admirar aquele casal, uma única coisa veio em minha mente, o desejo de quando eu ficar bem velhinho, como aquele senhor, ter ao meu lado indo prestar culto ao Deus Altíssimo, entrando de mãos dadas comigo no Templo, e sentando ao meu lado, a minha Carolina.
O amor é saber que num mundo com mais de 6 bilhões de habitantes temos uma única pessoa que nos completa. Que a distância dói. Que a saudade nos deixa inquietos com a vontade de voltar logo para casa. Que você tem a certeza de que quer envelhecer ao lado desta pessoa. Que há alguém, mesmo distante, num outro continente, que está preocupado com você. Que arruma as suas malas para viajar. Que briga por causa da barba grande, e que lhe ameaça dizendo que se você não fizer a barba não vai entrar em casa. Que todo dia espera pelo seu retorno para casa. Que sonha os nossos sonhos. Que não nos deixa fraquejar.
Quando se tem a verdadeira harmonia familiar é muito mais fácil chegar a lugares altos. Pois não caminhamos sozinhos.
Mas a palavra de Deus com toda a sua completude, sabedoria e ensinamentos nos diz que o cordão que não se quebra é o cordão de três dobras. Conforme Eclesiastes 4:12: Se alguém quiser prevalecer contra um, os dois lhe resistirão; o cordão de três dobras não se rebenta com facilidade.” E esta terceira dobra é o Deus Altíssimo, o meu confidente, a nossa terceira coluna. Não por acaso é este versículo que encontra-se gravado na minha aliança de casamento.  
Nestes dias de reflexão me fiz então a terceira e derradeira pergunta: - Qual foi o dia mais importante da minha vida?
Não tenho dúvidas de que tudo que alcancei e o que vivo hoje é resultado de uma decisão que tomei aos doze anos de idade. Me lembro como se fosse hoje do dia em que aceitei a Jesus Cristo como senhor e salvador da minha vida. Fico feliz porque conheci este Deus ainda enquanto criança. E o homem que sou hoje é reflexo desta decisão. Estou longe de ser um santo, alguém perfeito, sem falhas. Todos os dias luto incessantemente contra o “homem carnal”. Não é uma luta fácil. Erro, peco, me arrependo, peço perdão. Mas uma certeza eu tenho. Se não fosse a presença e o temor de Deus em minha vida certamente eu seria uma pessoa bem pior do que sou hoje.
O que sei é que a obra que Ele começou em minha vida ainda não terminou. Mas, uma vida intima e relacional com Ele me deu um verdadeiro sentido de propósito na vida, que me faz focar na eternidade e não apenas nesta passagem momentânea por este plano terrestre. Ter aceitado a Jesus Cristo me trouxe, além da certeza da vida eterna, a certeza de que não devemos recolher tesouros para nós neste plano. Tudo passa, tudo é passageiro, mas a nossa existência espiritual é eterna.
Com o tempo entendemos que espiritualidade não é religiosidade. E que a sinceridade de coração e de propósitos nos aproxima de Deus. Hoje sei que as outras duas colunas mencionadas dependem fortemente desta coluna principal. A realização profissional que logro foi fruto da graça do Deus Altíssimo, que abriu portas impensáveis aos “olhos” humanos. Hoje navego sobe os ventos que vem do Alto, na certeza de que os projetos que Deus tem para as nossas vidas são infinitamente mais completos do que os nossos projetos.
A vida me ensinou que este Deus Altíssimo não mora lá no céu, com aprendemos quando criança. Ele habita entre nós, e habita dentro de nós se nós permitimos a sua entrada. Jesus disse: “Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo” (Ap 3.20).
Assim, como resultado desta reflexão, somente me vem a mente a palavra gratidão. Gratidão aos amigos que conquistei nesta vida. Gratidão aos meus pastores. Gratidão à minha família, aos meus pais, aos meus sogros, ao meu cunhado, aos meus filhos e em especial à minha esposa Carolina. Gratidão ao Deus Altíssimo pela graça, pela misericórdia e pelas bênçãos imensuráveis!

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