Compartilho com vocês um trecho do Culto de Ação de Graças aos
meus 40 anos, celebrado no dia 23, na Comunidade Evangélica Integrada da
Amazônia da Alcindo Cacela. Neste momento, li algumas palavras que escrevi para
resumir o meu sentimento de felicidade e a minha gratidão. Sempre é bom
agradecer a Deus, à família e aos amigos! Confira o vídeo e o texto na íntegra:
Gratidão
O
aniversário de quarenta anos costuma ser tratado como um marco na vida de um
homem. Há um ditado popular que diz que a vida começa aos quarenta. Nesta
perspectiva, estou, então, entrando em uma nova etapa de minha vida.
Normalmente não ligo muito para datas de aniversário; e poucos aniversários
comemorei em minha vida. Mas este tem algo de especial. Provavelmente pelo simbolismo
dos quarenta anos.
Em
paralelo com os preparativos para a festa, me propus em caráter intimista a
fazer uma reflexão sobre o passado. Algo que para mim não é natural, na medida
em que sempre me pautei pelo amanhã.
A
primeira pergunta que me fiz foi: - E se eu morresse hoje?
A
única coisa que me veio foi um sentimento de gratidão e paz. Acho que já
poderia morrer hoje com sentimento de que tudo valeu a pena e a certeza da vida
eterna. Não estou desejando morrer, mas vivi estes primeiros quarenta anos com
tanta intensidade que estou me sentindo como se já, mesmo sendo ainda jovem,
estivesse vivendo horas extras. Um sentimento de que tudo a partir de agora é
lucro.
Inúmeras
lembranças vieram à minha memória nos últimos dias. Fotografias de uma vida que
começam a fazer todo o sentido quando elas integram um filme que fala de
esperança, superação, fé, paixão e amor. Esperança de que um dia alcançaria sonhos
e projetos que em certo momento estavam muito distantes. Superação, pois para
alcançar estes sonhos e projetos foi mais do que necessário vencer as minhas
próprias limitações. Fé porque a crença e a esperança depositadas no Deus
Altíssimo fizeram com aqueles sonhos e projetos se tornassem realidade. Paixão,
talvez a palavra mais adequada para representar o combustível que movia as
ações do dia a dia. Paixão pelo que fazia, paixão pela profissão, paixão pelas
pessoas. E o amor, que hoje se expressa na palavra família; e em especial Carolina.
A
paz, a felicidade, a segurança que sinto são resultados do sentimento de que
houve um sentido de propósito em tudo o que foi feito, o que está sendo feito e
que ainda sonho em fazer. Somo a isto a clara sensação de pertencimento a
pessoas e lugares.
Não
satisfeito me fiz uma segunda pergunta: - O que a vida me ensinou?
Creio
que a principal lição que logrei até o momento foi a de que o tempo todo
estamos exercitando o nosso livre arbítrio e fazendo escolhas. E mais importante
do que poder fazer escolhas é saber como fazer as escolhas certas. Há,
portanto, um conjunto de princípios que ao longo dos anos fui construindo e que
me ajudam hoje a fazer escolhas melhores.
Fazer
o que é certo não é normalmente fazer o que é mais fácil. É melhor ser
responsável do que ser querido. Precisamos aprender a dizer não. Nada é mais
importante do que os seus valores e a sua crença. Melhor é desagradar a alguém
do que romper com os seus princípios. Se é para sonhar, por que não sonhar
alto? Mas não basta apenas sonhar. É fundamental manter o foco e se cercar de
pessoas boas e, principalmente, de boas pessoas, se possível espiritualizadas.
Dificuldades
e obstáculos certamente aparecerão no caminho, mas é preciso manter a visão
fitada no alvo. A visão serve como uma inspiração diária na jornada, mas a
disciplina é que o que nos conduz ao nosso destino. Em alguns momentos o vento
sopra contra nós. Esta é a melhor hora para provar a nós mesmos que aquele
sonho tem valor; para isso é necessário pegar o remo e remar contra a maré e
contra todos se assim for necessário.
A
palavra convence, mas o exemplo arrasta. O verdadeiro líder não empurra, vai na
frente. Não podemos ter medo de errar, precisamos de ousadia, inventividade,
criatividade, coragem, determinação e de muita insistência. As situações vão deixando
claro as pessoas que irão remar com você ou aquelas que apenas querem uma
“carona”. Não há vitória sem luta e honra sem sacrifícios. Mas é necessário,
também, ter sabedoria para saber mudar de direção quando se percebe que se está
no cominho errado.
Ressignificar
é uma palavra para ser aprendida e incorporada no dia a dia. Pequenas
conquistas precisam ser reconhecidas e valorizadas, pois mostram que estamos no
caminho certo. Precisamos aprender a dar valor ao que temos, mesmo as pequenas
coisas. Ainda sobe as coisas, elas não são mais importantes do que as pessoas. Não
podemos perder a sensibilidade para o que é humano. A luta por uma sociedade
mais justa, inclusiva e igualitária deve permear todos os nossos projetos e
atitudes.
O
tempo “perdido” não é necessariamente perdido quando o perdemos ao lado de
pessoas especiais. A família precisa estar sentada com você no ponto de
controle e comando da navegação; e não sentada no “porão da embarcação”. Toda
rota de navegação precisa ser definida pela nossa Estrela Guia, o Deus
Altíssimo. Navegando sob orientação deste Deus, não tenho dúvidas de que, cedo
ou tarde, alcançaremos o “porto seguro” dos nossos objetivos, e a paz que só
Jesus Cristo pode dar.
Certa
afirmação popular diz que antes de morrer o homem precisa fazer três coisas:
plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho. Segundo este adágio mais
uma vez me sinto fazendo hora extra. Já plantei dezenas de árvores, escrevi
alguns livros e tenho três filhos – um menino e duas meninas.
Gosto
de plantar árvores. Não sou um bom jardineiro e confesso que tenho preguiça
para mexer com plantas, apesar de gostar disto. Sei que é um paradoxo, mas acho
que todos nós somos formados por inúmeros paradoxos.
Gosto
de escrever, já publiquei alguns livros, mas não tantos quantos gostaria.
Infelizmente nos últimos anos o excesso de atividades está me tirando da tarefa
prazerosa de escrever. Não sei se promessas de aniversário contam, mas acho que
vou me prometer que tentarei ter um pouco mais de disciplina neste ponto. Tenho
alguns projetos de livros a serem escritos e realmente não gostaria de partir
sem tê-los feito. Aqui acho que estou sendo contraditório, mais um paradoxo, pois
todo bom trabalhador só recebe por hora extra quando o seu expediente está
encerrado. Acho que ainda não encerrei o meu expediente, ainda.
Finalmente,
apesar de sonhar em ter mais um filho, a vida me deu três lindos e maravilhosos
filhos: L, M e N. L de Laura, M de Maria Eduarda e N de Nuno Eduardo. Ainda
falta a letra O, que segundo a Laura seria para a Olívia, mas ainda precisamos
convencer a Carol a ter mais um Dudu!
Mas
voltando aos três lindos filhos que Deus me deu até o momento, é curioso como
os três são totalmente diferentes. E se há um legado que quero deixar para eles
é que vivam a vida com paixão, verdade e intensidade. Que se guiem por uma
conduta ética e proba. Que cultivem um bom caráter. Que sejam leais aos seus
amigos e aos seus princípios. Que jamais abandonem ou se distanciem da sua
família. E, acima de tudo, que amem a Deus sobre todas as coisas.
Longe
de ser um filósofo. Desde cedo me perguntava qual seria o segredo da
felicidade. Com o tempo passei a entender que a felicidade é um “estado de
espírito”. Definitivamente a felicidade é uma questão de escolha. Escolhemos
sermos ou não felizes. Depende fundamentalmente de nossas decisões e da forma
como encaramos o mundo. Sem embargo, três colunas se tornam necessárias para a
construção de uma vida com propósito, plena, e, portanto, feliz. E estas três
colunas precisam estar em equilíbrio: realização profissional, harmonia
familiar e uma vida intima e relacional com Deus.
Passo
as apresentar a seguir em ordem de importância.
A
realização profissional é parte da existência terrena do homem. É o que o faz
se integrar e se sentir útil à sociedade, ao mesmo tempo em que lhe permite
condições de sobrevivência material. Mas não existe sucesso profissional sem
foco, dedicação, sacrifício e uma alta dose de planejamento pessoal. Desde os
meus quinze anos já havia definido o que queria ser. Sonhava fazer mestrado e
doutorado e ser professor de economia de uma universidade federal. A docência
se apresentava para mim muito mais do que uma profissão, mas como uma vocação e
um sentido existencial, que me permitiria tocar pessoas e transformar vidas.
Nesta
jornada, determinado a alcançar o meu objetivo, abri mão durante muito tempo do
que não era essencial. Enquanto alguns se divertiam com a mira no curto prazo
eu estava estudando e olhando para o longo prazo. Durante muito tempo tive a
impressão de que a vida estava passando e eu não a estava vivendo. Tomei
decisões duras e difíceis. Tive oportunidades, mas não eram as que sonhava.
Rejeitei-as na certeza de que tinha um objetivo. Passei dificuldades,
restrições, senti solidão, coisas que muito pouco compartilhei com alguém. A
vida me fez uma pessoa muito reservada em minhas questões pessoais. Tenho um
único e grande confidente, que me viu por alguns breves instantes ter dúvidas,
entrar em crise, chorar de solidão, mas que esteve o tempo todo presente comigo.
Mas Dele eu falo daqui a pouco.
Hoje,
olhando para trás, a sensação é de que tudo valeu a pena. Não há no mundo
profissional a palavra sorte. Existe a recompensa de quem plantou no tempo
certo e a certeza de que toda a colheita é resultado de uma atitude. Hoje tenho
um sentido de propósito profissional e a sensação de que não preciso provar
mais nada a ninguém. Livros, comendas, prêmios, títulos, cargos, são resultados
de uma colheita abundante de alguém que plantou e teve a fé de que “Outro
Alguém” mandaria na “estação certa” chuvas em abundâncias.
A
segunda coluna é a harmonia familiar. Recentemente, na frente de uma Catedral
em Bordeaux, uma cena me marcou profundamente. O sino da igreja badalava
anunciando que a hora da missa havia chegado e em direção ao templo um casal de
velhinhos caminhava lentamente em harmonia, com passos pequeninos, de mãos
dadas. Seguramente ambos tinham mais de noventa anos. Ele curvado pelo peso da
idade e ela frágil, mas ao mesmo tempo firme, ao seu lado. Não precisavam dizer
mais nada. Naquele lento e melódico caminhar estava estampado o significado da
palavra amor: amizade, lealdade, cumplicidade, companheirismo e união. Além de
parar para admirar aquele casal, uma única coisa veio em minha mente, o desejo
de quando eu ficar bem velhinho, como aquele senhor, ter ao meu lado indo
prestar culto ao Deus Altíssimo, entrando de mãos dadas comigo no Templo, e
sentando ao meu lado, a minha Carolina.
O
amor é saber que num mundo com mais de 6 bilhões de habitantes temos uma única
pessoa que nos completa. Que a distância dói. Que a saudade nos deixa inquietos
com a vontade de voltar logo para casa. Que você tem a certeza de que quer
envelhecer ao lado desta pessoa. Que há alguém, mesmo distante, num outro
continente, que está preocupado com você. Que arruma as suas malas para viajar.
Que briga por causa da barba grande, e que lhe ameaça dizendo que se você não fizer
a barba não vai entrar em casa. Que todo dia espera pelo seu retorno para casa.
Que sonha os nossos sonhos. Que não nos deixa fraquejar.
Quando
se tem a verdadeira harmonia familiar é muito mais fácil chegar a lugares
altos. Pois não caminhamos sozinhos.
Mas
a palavra de Deus com toda a sua completude, sabedoria e ensinamentos nos diz
que o cordão que não se quebra é o cordão de três dobras. Conforme Eclesiastes
4:12: “Se alguém quiser prevalecer
contra um, os dois lhe resistirão; o cordão de três dobras não se rebenta com
facilidade.” E esta terceira dobra é o
Deus Altíssimo, o meu confidente, a nossa terceira coluna. Não por acaso é este
versículo que encontra-se gravado na minha aliança de casamento.
Nestes
dias de reflexão me fiz então a terceira e derradeira pergunta: - Qual foi o
dia mais importante da minha vida?
Não
tenho dúvidas de que tudo que alcancei e o que vivo hoje é resultado de uma
decisão que tomei aos doze anos de idade. Me lembro como se fosse hoje do dia
em que aceitei a Jesus Cristo como senhor e salvador da minha vida. Fico feliz
porque conheci este Deus ainda enquanto criança. E o homem que sou hoje é
reflexo desta decisão. Estou longe de ser um santo, alguém perfeito, sem
falhas. Todos os dias luto incessantemente contra o “homem carnal”. Não é uma
luta fácil. Erro, peco, me arrependo, peço perdão. Mas uma certeza eu tenho. Se
não fosse a presença e o temor de Deus em minha vida certamente eu seria uma
pessoa bem pior do que sou hoje.
O
que sei é que a obra que Ele começou em minha vida ainda não terminou. Mas, uma
vida intima e relacional com Ele me deu um verdadeiro sentido de propósito na
vida, que me faz focar na eternidade e não apenas nesta passagem momentânea por
este plano terrestre. Ter aceitado a Jesus Cristo me trouxe, além da certeza da
vida eterna, a certeza de que não devemos recolher tesouros para nós neste
plano. Tudo passa, tudo é passageiro, mas a nossa existência espiritual é
eterna.
Com
o tempo entendemos que espiritualidade não é religiosidade. E que a sinceridade
de coração e de propósitos nos aproxima de Deus. Hoje sei que as outras duas
colunas mencionadas dependem fortemente desta coluna principal. A realização
profissional que logro foi fruto da graça do Deus Altíssimo, que abriu portas
impensáveis aos “olhos” humanos. Hoje navego sobe os ventos que vem do Alto, na
certeza de que os projetos que Deus tem para as nossas vidas são infinitamente
mais completos do que os nossos projetos.
A
vida me ensinou que este Deus Altíssimo não mora lá no céu, com aprendemos
quando criança. Ele habita entre nós, e habita dentro de nós se nós permitimos
a sua entrada. Jesus disse: “Eis que estou à
porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua
casa, e com ele cearei, e ele comigo” (Ap 3.20).
Assim,
como resultado desta reflexão, somente me vem a mente a palavra gratidão. Gratidão
aos amigos que conquistei nesta vida. Gratidão aos meus pastores. Gratidão à
minha família, aos meus pais, aos meus sogros, ao meu cunhado, aos meus filhos
e em especial à minha esposa Carolina. Gratidão ao Deus Altíssimo pela graça,
pela misericórdia e pelas bênçãos imensuráveis!
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