terça-feira, 12 de abril de 2011

Homem: Imagem e Semelhança de Deus

Somos feitos a imagem e semelhança de Deus? A princípio parece uma afirmação forte, pretensiosa. Porém, a fonte desta afirmativa é a própria palavra de Deus, a Bíblia Sagrada. De acordo com o Livro de Gêneses, no último dia da criação disse Deus: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança” (Gênesis 1:26).
Teria Deus guardado a sua “obra prima” para o final? O que difere o homem dos outros seres viventes até então criados? A frase acima dá uma pista. Somos os únicos realmente feitos a imagem e semelhança de Deus. Mas o que significa isto? Existe distinção entre imagem e semelhança? O que estes termos querem afirmar?
Podemos inferir que as duas palavras não estão aí por acaso. Imagem e semelhança estão propositalmente colocadas. São complementares. Não são termos substitutos, em que pese alguns teólogos gastarem tempo discutindo o propósito e o significado das duas palavras.
Se somos a imagem de Deus, de que forma expressamos isto? Imagem significa reflexo. Quando olhamos o nosso reflexo no espelho percebemos que os traços são idênticos. Mas em que sentido podemos ser idênticos a Deus? Certamente esta identidade não está ligada ao mundo material. Deus não é feito de carne e osso. A sua essência é espiritual. Deus é um Ser espiritual. Daí vem a nossa semelhança. Somos os únicos seres viventes tricotômicos. Ou seja, somos os únicos objetos da criação de Deus que possuímos corpo, alma e espírito. Temos consciência da nossa existência. O filósofo francês René Descartes no auge do Movimento das Luzes na Europa afirmava: Cogito, ergo sum (Penso, logo sou).
Pensamos. Temos consciência de nossa existência. Podemos distinguir entre o bem e o mal. Podemos pensar, projetar, planejar, sonhar. Agimos premeditadamente e não por instinto. Somos muito mais do que um ser vivente. Somos um ser que tem um propósito e que incansavelmente busca um sentido para a existência. Não buscamos sobreviver, mas sim um sentido para o viver.
É este diferencial que permite a este ser, esta criação divinal, ter um relacionamento com o criador. Só podemos nos relacionar em “espírito e em verdade” porque temos uma partícula divina que nos permite termos consciência, livre-arbítrio e sentido de viver. A partir disto, temos a capacidade de buscarmos e termos a comunhão plena com o nosso criador. É desta forma que somos mentalmente semelhantes a Deus.
Mas não é somente isto. Somos, também, moralmente semelhantes a Deus. No ato da criação Deus fez o homem a sua imagem e semelhança também no sentido moral. O pai da psicanálise, Sigmund Freud, demonstra que em nossa disposição mental possuímos o superego que representa os sentimentos morais e éticos internalizados e que se contrapõe incessantemente contra o id, que representa os nossos processos primitivos de pensamento, ou seja, as nossas pulsões que agem no sentido da auto-preservação.
Entretanto, no inicio o homem como obra da criação de Deus era justo e inocente. Nenhum pecado podia lhe ser imputado. Havia pureza no homem, e esta pureza refletia a imagem da santidade de Deus. Talvez o superego de Freud não seja nada mais do que um vestígio do estado original do ser humano. Assim, podemos inferir que o que há de bom no ser humano, a justiça, o amor, a compaixão, a caridade, a pureza de espírito, a mansidão, a inocência... seja o que resta da imagem de Deus no ato da sua criação.
Se mentalmente e moralmente somos semelhantes ao criador, e se isto já não bastasse, somos, além disto, um ser social. Precisamos de comunhão. Comunhão com outros de nossa espécie e com o criador. O homem é um ser social por natureza. Necessita da convivência para desenvolver plenamente o seu sentido de humanidade. O homem precisa interagir, de um lado com outros homem, e de outro com o criador. O homem é o único ser vivente que tem consciência da existência de um Ser Supremo, um Deus que lhe criou, e que lhe presta culto.
Contudo, a história que a Bíblia Sagrada narra no Livro de Gêneses demonstra que nossa comunhão com o criador precede a comunhão com outros homens. O primeiro relacionamento do homem foi com Deus. Somente depois Deus fez a mulher dizendo que não era bom que o homem estivesse só (Gênesis 2:18).
Sendo Adão a imagem e semelhança de Deus, tinha livre-arbítrio. Podia ir contra os seus preceitos morais se assim o quisesse. No estado de pureza era inocente, justificado, mas a partir do momento em que experimentou o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, foi maculado. Maculado pelo pecado, Adão manchou a imagem de Deus dentro de si, e acabou passando adiante esta semelhança maculada a todos os seus filhos (Romanos 5:12).
Hoje, o ser humano ainda possui a imagem de Deus (Tiago 3:9), mas traz dentro de si a cicatriz do pecado. Ou seja, temos uma imagem desfigurada de Deus em nós. João Calvino, teólogo reformador, afirmara isto ao dizer que depois da queda o homem passou a ter uma imagem “deformada, doentia e desfigurada”.
Entretanto este não é o fim da história. A história da humanidade ainda não acabou como prega o historiador Francis Fukuyama. O próprio Deus que criou o homem imaculado permite a sua plena justificação. Ele restaura a imagem original de Deus no homem criando “o novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade” (Efésios 4:24; ver também Colossenses 3:10).
Esta plena restauração da imagem de Deus em nossas vidas somente é possível mediante a Cruz de Cristo, que é a imagem perfeita de Deus. O homem, no caminho de sua justificação, precisa buscar se tornar a cada dia mais semelhante a Jesus Cristo, e isto somente pode ocorrer, conforme afirma Calvino, através da nossa regeneração espiritual. Em I João 3:2 lemos: “Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que havemos de ser. Sabemos que quando Ele se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque havemos de vê-lo como ele é.”
Em suma, conforme afirma o Apóstolo Paulo em II Coríntios 3:18, a restauração da imagem de Deus em nós através de Cristo é um processo contínuo: “transformados de glória em glória”. Ou seja, para que possamos restaurar imagem de Deus em nós é necessário que nos tornemos a cada dia cada vez mais parecidos com Jesus Cristo.

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