sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Economistas discutem desindustrialização no CBE

A segunda noite do XIX Congresso Brasileiro de Economia, em Bonito-MS, contou com um painel dedicado à discussão sobre o processo de desindustrialização vivido pelo país. Os debatedores foram os economistas João Paulo de Almeida Magalhães, Marcelo Carcanholo, Eduardo Costa Pinto e Reinaldo Gonçalves. 


João Paulo de Almeida Magalhães, presidente do Conselho Regional de Economia do Rio de Janeiro, afirmou que estudos do IPEA demonstram que efetivamente há uma desindustrialização da economia do Brasil. Ela se deve, principalmente, à apreciação cambial e a outros fatores que estão fora do controle da indústria (como a política monetária e a concorrência com países que mantêm o câmbio desvalorizado - a China, por exemplo).
Marcelo Carcanholo (IPEA) foi o palestrante seguinte. Ele tratou de diferenciar reprimarização da pauta exportadora e desindustrialização, dois conceitos que às vezes acabam confundidos. "O grande problema do debate é que vários autores dão significados diferentes à palavra", expressou Carcanholo. "A reprimarização não representa em si a desindustrialização, mas é fato que este processo também ocorreu". E questionou: "Será que a taxa de câmbio é a única causa? E será que [a valorização do câmbio] é consequência só da exportação de commodities primárias?"
Eduardo Costa Pinto, também do IPEA, caracterizou a indústria como fundamental para o desenvolvimento dos outros setores da economia. "Nenhum país se desenvolveu sem uma forte industrialização", afirmou Pinto. O economista apontou para uma controvérsia do debate: "A indústria perde participação, mas cresce, por isso a dificuldade de se falar em desindustrialização. A indústria de transformação teve a produtividade reduzida em 3% entre 2000 e 2008". Olhando para o futuro, apontou um problema: "Os preços relativos vão mudar. Quando isso acontecer, estaremos à beira do abismo. Mas isso não acontecerá hoje nem amanhã".
O último palestrante foi Reinaldo Gonçalves, que fez uma crítica bastante dura ao governo Lula. Para o economista, o que aconteceu nos últimos oito anos foi o inverso do nacional-desenvolvimentismo: desindustrialização, dessubstituição de importações, reprimarização das exportações, maior dependência tecnológica, desnacionalização, perda de competitividade internacional, maior vulnerabilidade externa, concentração de capital e dominação financeira. "Grandes teóricos da república falam em desenvolvimentismo, grandes transformações e reversão de tendências estruturais. Dados empíricos dizem o contrário", resumiu Gonçalves.

Texto de Manoel Castanho - Jornalista do COFECON

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