terça-feira, 13 de setembro de 2011

Economista defende crescimento alto com inflação moderada

A palestra que abriu o XIX Congresso Brasileiro de economia foi proferida pelo economista e professor João Paulo de Almeida Magalhães, doutor em Economia pela Universidade de Paris. O tema foi desenvolvimento e inflação. Magalhães desenvolveu a tese de que a maior preocupação com o governo deve ser com um maior crescimento econômico e não com uma inflação dentro da meta governamental. 


Magalhães começou estabelecendo a diferença entre crescimento clássico e crescimento retardatário. No primeiro caso, garantir o equilíbrio cambial, fiscal e monetário são funções básicas do estado. O segundo quadro gera pressões nestas três áreas. “No Brasil, o maior desequilíbrio hoje é o inflacionário”, apontou o palestrante.
Em seguida, João Paulo apresentou dados sobre o crescimento recente da Argentina: “Nos últimos sete anos antes da crise, o PIB cresceu 8,7% ao ano. A inflação, segundo o governo, é de 10%, mas a oposição diz que é 20%. No Brasil nós crescemos por duas décadas a um ritmo de 7% com inflação média de 20%”.
Uma inflação deste nível seria algo assustador? Na opinião de Magalhães, não. “Hoje se reconhece que uma inflação moderada e estável é favorável ao desenvolvimento”, afirmou enquanto apontava o sucesso dos países asiáticos.
Em certo momento, questionou se uma tentativa de crescimento com inflação elevada teria o mesmo êxito na América Latina. Ao apontar as diferenças culturais, falou também sobre o caso norte-americano. “É a diferença entre o pioneiro e o bandeirante. Os americanos eram pioneiros. Levavam a família para a América do Norte, iam para trabalhar e garantiam seu sustento ocupando um espaço limitado. No Brasil a mentalidade era de bandeirante: eles vinham de Portugal, queriam enriquecer rapidamente, adentravam a mata e ocupavam um espaço que eram incapazes de sustentar”.
Retomando a questão do crescimento retardado, Magalhães propôs um modelo em que se tenha uma meta de crescimento com a menor inflação possível – ao contrário do que se faz hoje, tendo uma meta de inflação com o maior crescimento possível. “Se crescermos 5,3% em quanto tempo tiraríamos o nosso atraso econômico? Em 40 anos”, apontou. “Se estabelecermos que o país não pode crescer mais de 5%, durante cem anos não tiraremos este atraso”.
Para Magalhães, a hiperinflação recente criou traumas no brasileiro e eles precisam ser superados. “Eu vivi uma época em que crescíamos a 7% com uma inflação de 20%, então estou vacinado contra isso”, afirmou. “Os mitos estão marcando a opinião pública e precisam ser vencidos. O problema no Brasil é que transferimos receitas de países de crescimento clássico para o nosso país. Precisamos nos desenvolver, não podemos renunciar a isso”.

Texto: Manoel Castanho (COFECON)

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