quarta-feira, 18 de abril de 2012

Crônicas sobre a corrupção (Parte 2): cultura, reforma política e financiamento de campanha


No artigo anterior foi apresentado um dado alarmante: 2,3% do PIB nacional são desviados anualmente dos cofres públicos do Brasil por práticas ilegais. O montante chega a 85 bilhões de reais por ano que acabam fazendo uma enorme falta na hora da prestação dos serviços públicos a população.
Estou convencido de que o problema da corrupção no Brasil é cultural. Em primeiro lugar é fato que só existe o corrupto por que existe o corruptor. E quando pensamos em corrupção no país pensamos logo na figura do político, mas ela está em todos os ramos de nossa sociedade. Existe corrupção quando alguém tenta se livrar de uma multa pagando uma “merenda” para o guarda! Existe corrupção quando ao se fazer um boletim de ocorrência na delegacia é cobrado um valor para a “cervejinha” do escrivão! Existe corrupção quando em uma sala de aula algum aluno negocia com o professor facilidades na avaliação! Existe corrupção quando pagamos para alguém um lugar em uma fila! Existe corrupção quando forjamos notas fiscais ou recibos para aumentamos a nossa restituição no imposto de renda! Existe corrupção quando no processo eleitoral o voto é trocado por algum favor ou vantagem pecuniária!
Percebo que muitos se escandalizam com notícias que são dadas sobre corrupção no Brasil, mas os mesmos acabam no dia a dia praticando atos não percebidos de corrupção. A “micro corrupção”, como chamo neste artigo os pequenos desvios de conduta moral do dia a dia, passa para muitos como algo despercebido. É a lógica do individualismo e do se dar bem! Quem nunca presenciou alguém furando uma fila, por exemplo? Ou se prevalecendo de contatos privilegiados para obter favores ou facilidades? 
Precisamos acabar com a hipocrisia em nosso país. É a hipocrisia que proclama que só é corrupção algo que é praticado por outros. Véspera de processo eleitoral esta prática aparece travestida desde favores, prestações de serviços públicos, patrocínio a atividades culturais, até a compra de voto explícita feita por aqueles que doam milheiros de tijolo, telhas, areia, cimento, camisas, cestas básicas, ou promessa de emprego, dentre outros. Muitos de nossos eleitores votam em um candidato não pelas qualidades que ele possuirá como gestor ou legislador, mas pelos favores presentes ou futuros que ele poderá ofertar!
Para acabarmos com a corrupção no Brasil é fundamental mudarmos a nossa cultura e a nossa forma de participação no processo político! Lamentavelmente o processo político no Brasil ainda é dominado pelo poderio econômico. E a forma de financiamento das campanhas políticas muitas vezes levam os candidatos a assumirem compromissos para o favorecimento dos grupos econômicos que financiaram a sua campanha! É em função disto que a forma de financiamento das campanhas precisa ser seriamente debatida neste país, e o financiamento público, capaz de dar isonomia no processo, precisa ser uma meta. Hoje o jogo político é o jogo dos desiguais. Quem não se rende, quem não se vende e quem não promete facilidades já entra no processo eleitoral em desvantagem.
Assim, somente com uma ampla reforma política e um choque cultural a nossa sociedade poderá ser efetivamente levada a sério!

Um comentário:

  1. Parabéns!
    Tanto a 1°crônica quanto a 2ª acrônica foram muito bem escritas. Depois de ler ambas, passo a ter certeza:
    -Um Brasil melhor , só se alcança através de pequenas ações de conscientização ética.
    E triste a falta de interesse politico da "grande massa" e mais danoso a nossa nação,e o egoismo e a sede pelo poder nas mãos de gente inescrupulosa.

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