segunda-feira, 18 de junho de 2012

Um Breve Histórico sobre o Curso de Economia no Pará (*)


Armando Dias Mendes
                                                                      
“Nesse contexto, como referido no texto do Discurso, fora criada a Faculdade de Ciências Econômicas, Contábeis e Atuariais do Pará. Era uma iniciativa da Fênix Caixeiral Paraense, e foi autorizada a funcionar em 1947. Mas só em 1949 começaria a oferecer o primeiro dos seus Cursos – o de Ciências Econômicas. 1948 foi um ano de preparações materiais e humanas. Foi uma novidade no incipiente panorama universitário da Cidade, que, inclusive, mudou radicalmente a minha vida, levando-me a viver cada vez mais à margem da Lei – profissionalmente falando, se bem me entendem. É que fui atraído para o corpo docente da nova Faculdade em 1952, quando a turma inaugural alcançava a quarta série e portanto aproximava-se da ambicionada formatura. Essa historieta merece até ser sumariamente contada, por ser edificante em mais de um aspecto.


“O que é isso, Diretor?”


A faculdade era obra, sobretudo, do idealismo, do empenho e da eficiência de Armando Corrêa Pinto. À frente da Fênix, tomou ele iniciativas que fizeram desta antiga associação de caixeiros, isto é, de empregados de comércio ou comentários, uma empresa de ensino verticalmente integrada. Ao começar os anos 50, a Fênix oferecia cursos do primário ao superior. Neste último patamar a escolha fora bem pensada: tratava-se de oferecer, principalmente aos antigos ‘contabilistas’, mais conhecidos como ‘guarda-livros’ (profissionais de nível médio formados na própria Fênix ou na Escola Prática de Comércio, esta última mantida pela Associação Comercial do Pará), a possibilidade de obterem diploma de curso superior que muito os ajudaria nas suas carreiras, em especial no serviço público. Daí que as primeiras turmas fossem constituídas predominantemente de pessoas maduras, desempenhando funções importantes. No meu caso particular, digamos que, atendendo a certa vocação (que já me levara, como indicado, a outras experiências docentes) e por certa inquietude de espírito, e com certeza também em razão de certa insatisfação com a prática forense, interessei-me pela possibilidade de assumir uma ‘cadeira’. A remuneração não era um atrativo especial: mal dava para a compra dos livros necessários e para o deslocamento em coletivo, de casa, na Cons. Furtado, até a Fênix, na Pe. Eutíquio, perto da praça da Bandeira, visto que ainda não tinha carro nem condições para adquiri-lo. Namorava as disciplinas históricas. Falavam-me que ainda não haviam sido preenchidas. O certo é que, ao chegar à Faculdade para uma entrevista sobre o assunto, o Diretor da época, Prof. Salvador Borborema, informou-me que essas matérias já tinham responsáveis. Mas havia uma outra disciplina, quem sabe...


Pediu-me para acompanhá-lo, levou-me à sala dos quartanistas e apresentou-me de modo abrupto: - Está aqui o Professor da matéria que está faltando, “Evolução da Conjuntura Econômica”. O impacto da surpresa foi tão grande que só me ocorreu perguntar: - “O que é isso, Diretor?!”


Mas aceitei, assim é a juventude. Saí à cata de bibliografia, ainda inexistente em português (mais tarde descobri um manual escrito pelo Prof. Davi Carneiro, da UFPr), conseguindo entretanto muito material em espanhol, sobretudo do Fondo de Cultura Económica do México, começando por um famoso e didático livro de J.A.Estey sobre os “ciclos econômicos”, e depois também em francês e em inglês. Tornei-me, como quase todos, se não todos os Colegas do corpo docente da Faculdade, autodidata.


A crônica da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, surgida em 1954, não é muito diferente. Hoje isso seria impossível, dados os requerimentos em titulação a que o candidato ao magistério superior deve satisfazer. Mas, a não ser assim, esses novos estabelecimentos de ensino superior simplesmente não teriam existido. Os Professores de Economia fomos, então, selecionados com apelo a dois grupos principais de graduados: os bacharéis em Direito, para as disciplinas teóricas, históricas, descritivas, e os engenheiros, para as disciplinas que exigiam boa base matemática, v.g. a estatística.


Lecionavam nela, em 1950: Abel Martins e Silva, Adriano Menezes, Alfredo Boneff, Aloysio Chaves, Antônio Gonçalves Bastos, Antônio Vizeu da Costa Lima, Augusto Rangel Borborema, Aulomar Lobato da Costa, Avertano Rocha, o Senior, Cassio Vasconcelos, Emílio Martins, Ernestino Souza Filho, Francisco de Lamartine Nogueira, Geraldo Castelo Branco, Hamilton Farias Moreira, Hélio Mota Gueiros, Ignácio de Souza Moita, José Acúrcio Cavalleiro de Macedo, José Batista Souza Leão, Maluf Gabbay, Miguel José de Pernambuco F°, Paulo Eleutério, Salvador Borborema, Samuel Napoleão Cohen, Stélio Maroja. E foram seus primeiros alunos: Alfredo Morais Rego, Américo Vespúcio Chagas, Arthemio Guimarães, Benedito Pantoja, Danilo Khoury, Edilson Moura Barroso, Ernande Anglada, Eymar Andrade dos Santos, Fernandino Pinto, Francisco Canindé Castelo de Souza, Harold Haber, Ivan Rickmann, Jesus Maués Pinheiro, João Manoel Nogueira de Freitas, Jorge Suleiman Kahwage, José Alfredo Carreira, José Juvêncio Alves Uchôa, Lourival Dias Monteiro, Luiz Chermont Lynch, Mário Ribeiro de Azevedo Filho, Myrian Huet de Bacelar, Nader Leite Nassar, Ormando Sampaio Collyer, Paulo Emílio Alves Miranda, Pedro José Martin de Mello, Roberto Farid Elias Massoud, Victoriano Silva Santos Murrieta e Waldemar Antônio Lopes.”

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(*) – Extraído de “A Cidade Transitiva”, de Armando Dias Mendes, IOEP, Belém/PA, 1998, páginas 116 a 119.

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