Armando Dias
Mendes
“Nesse
contexto, como referido no texto do Discurso, fora criada a Faculdade de
Ciências Econômicas, Contábeis e Atuariais do Pará. Era uma iniciativa da Fênix
Caixeiral Paraense, e foi autorizada a funcionar em 1947. Mas só em 1949
começaria a oferecer o primeiro dos seus Cursos – o de Ciências Econômicas.
1948 foi um ano de preparações materiais e humanas. Foi uma novidade no
incipiente panorama universitário da Cidade, que, inclusive, mudou radicalmente
a minha vida, levando-me a viver cada vez mais à margem da Lei –
profissionalmente falando, se bem me entendem. É que fui atraído para o corpo
docente da nova Faculdade em 1952, quando a turma inaugural alcançava a quarta
série e portanto aproximava-se da ambicionada formatura. Essa historieta merece
até ser sumariamente contada, por ser edificante em mais de um aspecto.
“O que é isso, Diretor?”
A faculdade era obra, sobretudo, do idealismo, do empenho e da eficiência de
Armando Corrêa Pinto. À frente da Fênix, tomou ele iniciativas que fizeram
desta antiga associação de caixeiros, isto é, de empregados de comércio ou
comentários, uma empresa de ensino verticalmente integrada. Ao começar os anos
50, a Fênix oferecia cursos do primário ao superior. Neste último patamar a
escolha fora bem pensada: tratava-se de oferecer, principalmente aos antigos
‘contabilistas’, mais conhecidos como ‘guarda-livros’ (profissionais de nível
médio formados na própria Fênix ou na Escola Prática de Comércio, esta última
mantida pela Associação Comercial do Pará), a possibilidade de obterem diploma
de curso superior que muito os ajudaria nas suas carreiras, em especial no
serviço público. Daí que as primeiras turmas fossem constituídas predominantemente
de pessoas maduras, desempenhando funções importantes. No meu caso particular,
digamos que, atendendo a certa vocação (que já me levara, como indicado, a
outras experiências docentes) e por certa inquietude de espírito, e com certeza
também em razão de certa insatisfação com a prática forense, interessei-me pela
possibilidade de assumir uma ‘cadeira’. A remuneração não era um atrativo
especial: mal dava para a compra dos livros necessários e para o deslocamento
em coletivo, de casa, na Cons. Furtado, até a Fênix, na Pe. Eutíquio, perto da
praça da Bandeira, visto que ainda não tinha carro nem condições para
adquiri-lo. Namorava as disciplinas históricas. Falavam-me que ainda não haviam
sido preenchidas. O certo é que, ao chegar à Faculdade para uma entrevista
sobre o assunto, o Diretor da época, Prof. Salvador Borborema, informou-me que
essas matérias já tinham responsáveis. Mas havia uma outra disciplina, quem
sabe...
Pediu-me para acompanhá-lo, levou-me à sala dos quartanistas e apresentou-me de
modo abrupto: - Está aqui o Professor da matéria que está faltando, “Evolução
da Conjuntura Econômica”. O impacto da surpresa foi tão grande que só me
ocorreu perguntar: - “O que é isso, Diretor?!”
Mas aceitei, assim é a juventude. Saí à cata de bibliografia, ainda inexistente
em português (mais tarde descobri um manual escrito pelo Prof. Davi Carneiro,
da UFPr), conseguindo entretanto muito material em espanhol, sobretudo do Fondo
de Cultura Económica do México, começando por um famoso e didático livro de
J.A.Estey sobre os “ciclos econômicos”, e depois também em francês e em inglês.
Tornei-me, como quase todos, se não todos os Colegas do corpo docente da
Faculdade, autodidata.
A crônica da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, surgida em 1954, não é
muito diferente. Hoje isso seria impossível, dados os requerimentos em
titulação a que o candidato ao magistério superior deve satisfazer. Mas, a não
ser assim, esses novos estabelecimentos de ensino superior simplesmente não
teriam existido. Os Professores de Economia fomos, então, selecionados com
apelo a dois grupos principais de graduados: os bacharéis em Direito, para as
disciplinas teóricas, históricas, descritivas, e os engenheiros, para as
disciplinas que exigiam boa base matemática, v.g. a estatística.
Lecionavam
nela, em 1950: Abel Martins e Silva, Adriano Menezes, Alfredo Boneff, Aloysio
Chaves, Antônio Gonçalves Bastos, Antônio Vizeu da Costa Lima, Augusto Rangel
Borborema, Aulomar Lobato da Costa, Avertano Rocha, o Senior, Cassio
Vasconcelos, Emílio Martins, Ernestino Souza Filho, Francisco de Lamartine
Nogueira, Geraldo Castelo Branco, Hamilton Farias Moreira, Hélio Mota Gueiros,
Ignácio de Souza Moita, José Acúrcio Cavalleiro de Macedo, José Batista Souza
Leão, Maluf Gabbay, Miguel José de Pernambuco F°, Paulo Eleutério, Salvador
Borborema, Samuel Napoleão Cohen, Stélio Maroja. E foram seus primeiros alunos:
Alfredo Morais Rego, Américo Vespúcio Chagas, Arthemio Guimarães, Benedito
Pantoja, Danilo Khoury, Edilson Moura Barroso, Ernande Anglada, Eymar Andrade
dos Santos, Fernandino Pinto, Francisco Canindé Castelo de Souza, Harold Haber,
Ivan Rickmann, Jesus Maués Pinheiro, João Manoel Nogueira de Freitas, Jorge
Suleiman Kahwage, José Alfredo Carreira, José Juvêncio Alves Uchôa, Lourival
Dias Monteiro, Luiz Chermont Lynch, Mário Ribeiro de Azevedo Filho, Myrian Huet
de Bacelar, Nader Leite Nassar, Ormando Sampaio Collyer, Paulo Emílio Alves
Miranda, Pedro José Martin de Mello, Roberto Farid Elias Massoud, Victoriano
Silva Santos Murrieta e Waldemar Antônio Lopes.”
______________________
(*) – Extraído de “A Cidade Transitiva”, de Armando Dias Mendes, IOEP,
Belém/PA, 1998, páginas 116 a 119.
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