Eduardo José Monteiro da Costa[1]
O pensamento
crítico sobre a Amazônia ficou mais pobre no último dia 15 de junho de 2012.
Faleceu no período da tarde, em sua residência em Brasília, Armando Dias
Mendes. Ícone do pensamento crítico sobre o desenvolvimento da Amazônia; Doutor honoris
causa pela
Universidade Federal do Pará (UFPA) e pela Universidade da Amazônia (UNAMA);
Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais; Especialista em Planejamento
Regional; Professor e Pró-Reitor da UFPA; Fundador do Núcleo de Altos Estudos
Amazônicos (NAEA). Foi Assessor Especial do Ministro e Secretário-Geral do Ministério
da Educação; Professor Colaborador da UnB; Relator do Currículo Mínimo do Curso
de Ciências Econômicas no Conselho Federal de Educação; Presidiu o BCA/BASA; Presidiu
a Associação Nacional dos Centros de Pós-Graduação em Economia e Personalidade
Econômica do Ano de 2006 pelo Conselho Federal de Economia onde atuava como
Consultor para Amazônia, desenvolvimento sustentável e ensino superior.
Armando Mendes
deixou um legado intelectual por meio de inúmeros livros publicados: Estradas
para o desenvolvimento; Viabilidade Econômica da Amazônia; A Invenção da
Amazônia; Instrumentos para a Invenção da Amazônia; Ciência, Universidade e
Crise; O mato e o mito; A casa e as suas raízes; A cidade transitiva; Amazônia
– modos de (o)usar; e, O Economista e o Ornitorrinco.
No último dia 06
de junho o professor Armando Mendes, como gostava de chamá-lo, brindou uma
atenta plateia por ocasião da abertura do VI Encontro de Economistas da
Amazônia com a Conferência Magna: “1912 – 2012 Cem Anos da Crise da Borracha na
Amazônia: Do Retrospecto ao Prospecto”. Não imaginávamos, mas era a sua
despedida! Deixou a nossa convivência em alto estilo, com humor, irreverência,
mas acima de tudo apresentando uma visão crítica sobre a forma como a nação
brasileira trata a Amazônia. Relacionou a
problemática da Amazônia com diversos clássicos da literatura brasileira. Chamou
atenção para a forma como a Amazônia vem sendo castigada por um pacto
federativo perverso. Recorrendo a sua memória histórica contou ao público
presente como a Constituição “Cidadã” de 1988, que se propunha lutar contra as
desigualdades sociais e regionais, foi, por manobras das bancadas de estados
mais desenvolvidos, distorcida em seus aspectos fundamentais. Para Armando
Mendes a Constituição Federal é contraditória na medida em que por meio de uma
série de legislações complementares acabou construindo um modelo federativo que
reforça as desigualdades regionais. Assim, se referindo a forma como alguns
estados são tratados, destacou que “alguns são mais iguais do que os outros!”
Como
bons discípulos, se aprendemos bem a lição do mestre Armando Mendes, podemos
dizer que se em algum momento a Amazônia como nós hoje a conhecemos foi
inventada, e o foi, principalmente através de políticas e ações coordenadas
pelo Governo Federal, hoje a Amazônia precisa ser reinventada.
Compartilho em sua homenagem
um pequeno trecho da abertura de uma conferência proferida por ele por ocasião
do XXI Simpósio Nacional dos Conselhos de Economia – Since: “Serei simples,
sucinto e sóbrio como Paulo na segunda carta a Timóteo: Combati o bom combate,
completei o percurso, guardei a fé (...) Agora é essencialmente o empenho por
uma causa superior, que ela em mim personaliza: a causa dos economistas. Dos
bons economistas - competentes. Dos economistas bons - compassivos.”
Quem teve o privilégio de conviver com ele e
o discernimento de guardar os seus ensinamentos certamente se tornou um
cientista social com uma visão mais abrangente e crítica do mundo. Como lição
levamos o seu exemplo, não basta interpretar os fenômenos, é preciso intervir e
mudar a realidade.
Professor Armando Mendes, muito obrigado!
Pela convivência respeitosa e harmoniosa. Pelos diversos ensinamentos. Pelo
estímulo a busca por uma trajetória diferente de desenvolvimento da Amazônia. Pelo
exemplo de economista, pai, professor e amigo. Adeus!
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