segunda-feira, 18 de junho de 2012

Armando Dias Mendes: a despedida de um mestre


Eduardo José Monteiro da Costa[1]

O pensamento crítico sobre a Amazônia ficou mais pobre no último dia 15 de junho de 2012. Faleceu no período da tarde, em sua residência em Brasília, Armando Dias Mendes. Ícone do pensamento crítico sobre o desenvolvimento da Amazônia; Doutor honoris causa pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e pela Universidade da Amazônia (UNAMA); Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais; Especialista em Planejamento Regional; Professor e Pró-Reitor da UFPA; Fundador do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA). Foi Assessor Especial do Ministro e Secretário-Geral do Ministério da Educação; Professor Colaborador da UnB; Relator do Currículo Mínimo do Curso de Ciências Econômicas no Conselho Federal de Educação; Presidiu o BCA/BASA; Presidiu a Associação Nacional dos Centros de Pós-Graduação em Economia e Personalidade Econômica do Ano de 2006 pelo Conselho Federal de Economia onde atuava como Consultor para Amazônia, desenvolvimento sustentável e ensino superior.
Armando Mendes deixou um legado intelectual por meio de inúmeros livros publicados: Estradas para o desenvolvimento; Viabilidade Econômica da Amazônia; A Invenção da Amazônia; Instrumentos para a Invenção da Amazônia; Ciência, Universidade e Crise; O mato e o mito; A casa e as suas raízes; A cidade transitiva; Amazônia – modos de (o)usar; e, O Economista e o Ornitorrinco.
No último dia 06 de junho o professor Armando Mendes, como gostava de chamá-lo, brindou uma atenta plateia por ocasião da abertura do VI Encontro de Economistas da Amazônia com a Conferência Magna: “1912 – 2012 Cem Anos da Crise da Borracha na Amazônia: Do Retrospecto ao Prospecto”. Não imaginávamos, mas era a sua despedida! Deixou a nossa convivência em alto estilo, com humor, irreverência, mas acima de tudo apresentando uma visão crítica sobre a forma como a nação brasileira trata a Amazônia. Relacionou a problemática da Amazônia com diversos clássicos da literatura brasileira. Chamou atenção para a forma como a Amazônia vem sendo castigada por um pacto federativo perverso. Recorrendo a sua memória histórica contou ao público presente como a Constituição “Cidadã” de 1988, que se propunha lutar contra as desigualdades sociais e regionais, foi, por manobras das bancadas de estados mais desenvolvidos, distorcida em seus aspectos fundamentais. Para Armando Mendes a Constituição Federal é contraditória na medida em que por meio de uma série de legislações complementares acabou construindo um modelo federativo que reforça as desigualdades regionais. Assim, se referindo a forma como alguns estados são tratados, destacou que “alguns são mais iguais do que os outros!”
Como bons discípulos, se aprendemos bem a lição do mestre Armando Mendes, podemos dizer que se em algum momento a Amazônia como nós hoje a conhecemos foi inventada, e o foi, principalmente através de políticas e ações coordenadas pelo Governo Federal, hoje a Amazônia precisa ser reinventada. 
Compartilho em sua homenagem um pequeno trecho da abertura de uma conferência proferida por ele por ocasião do XXI Simpósio Nacional dos Conselhos de Economia – Since: “Serei simples, sucinto e sóbrio como Paulo na segunda carta a Timóteo: Combati o bom combate, completei o percurso, guardei a fé (...) Agora é essencialmente o empenho por uma causa superior, que ela em mim personaliza: a causa dos economistas. Dos bons economistas - competentes. Dos economistas bons - compassivos.”
Quem teve o privilégio de conviver com ele e o discernimento de guardar os seus ensinamentos certamente se tornou um cientista social com uma visão mais abrangente e crítica do mundo. Como lição levamos o seu exemplo, não basta interpretar os fenômenos, é preciso intervir e mudar a realidade.
Professor Armando Mendes, muito obrigado! Pela convivência respeitosa e harmoniosa. Pelos diversos ensinamentos. Pelo estímulo a busca por uma trajetória diferente de desenvolvimento da Amazônia. Pelo exemplo de economista, pai, professor e amigo. Adeus!


[1] Doutor em Economia pela Unicamp, Professor da UFPA e amazônida. 

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