Eduardo Costa
Causa-me espanto como algumas questões
importantes para a sociedade paraense são tratadas com elevado descaso. Já
havia anteriormente alertado, em outras oportunidades, sobre a importância da
participação efetiva de nossos representantes eleitos, tanto na Câmara Federal
quanto no Senado, nas discussões relativas aos novos critérios de repartição do
Fundo de Participação dos Estados (FPE) e do Fundo de Participação dos
Municípios (FPM). Alertei que da forma como a discussão estava sendo
encaminhada, influenciada principalmente pelas bancadas dos estados do
centro-sul do país, o estado do Pará iria mais uma vez ser lesado no já
esgarçado federalismo fiscal brasileiro em função dos critérios então
discutidos serem desfavoráveis ao Pará.
Passado alguns meses, nada mudou. Pior, o
assunto é ignorado inclusive pelo poder legislativo estadual. Aliás, já passou
do momento da Assembleia Legislativa do Estado do Pará (ALEPA) discutir
seriamente este e outros assuntos, tais como o veto da Presidente Dilma a
repartição dos royalties do Pré-Sal,
a instituição do Fundo Nacional de Desenvolvimento Regional (FNDR), as
compensações pela perda de arrecadação do estado com a Lei Kandir e com a
cobrança do ICMS de energia no local de consumo, e o fato das emendas da
bancada do estado serem continuamente contingenciadas.
Especificamente em relação ao FPE e ao FPM o
Supremo Tribunal Federal (STF) havia determinado inconstitucional o atual
modelo de repartição e estipulou um prazo até o final de 2012 para que o
Congresso Nacional discutisse a aprovasse um novo marco legal para a
distribuição dos fundos.
Atualmente o FPE e o FPM são fundamentais
para a sobrevivência, principalmente, dos estados do Norte, Nordeste e
Centro-Oeste do país, que recebem 85% dos valores dos fundos. Desta forma, o
repasse de verbas responde por grande parte do orçamento dos estados e
municípios destas regiões. Para se ter
uma ideia no ano de 2012 o repasse foi da ordem de 70 bilhões de reais para os
estados e 69,2 bilhões para os municípios.
Algumas incertezas pairam sobre o futuro da
discussão do tema. Dada à dificuldade do Congresso Nacional votar o assunto há
a possibilidade do STF legislar sobre o tema. Outra possibilidade é a
judicialização do repasse na medida em que o prazo estabelecido para a
definição de novos critérios já venceu. Assim, ou o Tribunal de Contas da União
(TCU), que informa anualmente os percentuais de distribuição, mantém os
percentuais atualmente vigentes, ou o repasse pode ser suspenso até o Congresso
ou o STF deliberarem sobre o assunto. Acredito que esta é uma possibilidade
remota, pois causaria uma crise federativa sem precedentes.
Contudo, para o estado do Pará esta discussão
é ainda mais delicada. É fundamental uma articulação de bancada que não só
impeça a diminuição da fatia do estado no bolo da distribuição, mas que garanta
a inclusão de novos critérios favoráveis ao estado e que garantam o aumento do
percentual de distribuição. Para isto, além de um adequado subsídio técnico
para a discussão do tema, é importante a montagem de uma arquitetura
política-institucional que permita que o Pará deixe de ser preterido nesta
discussão e passe a ser protagonista do debate. Mas, isto depende, reintero, da
capacidade de articulação política e do poder de convencimento de nossos
representantes eleitos.
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