Rinaldo
Moraes – Economista da Sudam. Bacharel em Administração e Contabilidade. Doutor
e Professor da UFPa do Curso de Pós Graduação em Gestão Empresarial.
Movimento é uma palavra cara e chave no atual mundo das
organizações – públicas ou privadas. Por movimento entenda-se uma categoria
conceitual que se alinha, intensamente, a um modelo de gestão dinâmico – e que
se opõe, do outro lado, a um padrão de gestão fragmentada ou mecanicista.
Movimento se opõe, também, àquilo que está parado. E muitas organizações
públicas estão estagnadas – e, portanto, alinhadas a um modelo de gestão
burocrático-weberiano.
Os
modelos de gestão de tradição fragmentada e que trabalham pensando no curto
prazo – e que também não se antecipam às mudanças que o mercado e a sociedade
impõem - são modelos estáticos que focam o improviso e, portanto, fazem parte
de organizações que apresentam dificuldades em se reinventar ou perceber
oportunidades. De uma outra forma: organizações estáticas e da cultura da
subserviência - ou pouca inventiva - apreciam a zona de conforto. Mudança é um
paradigma que assusta.
De fato, mesmo, sair da zona de conforto é tarefa difícil
para qualquer organização pública – e nunca será tarefa fácil para qualquer
gestor. Ora, somos, na gestão pública, quase todos cartesianos ou funcionalista
– e isto é reproduzido nos cursos medianos de administração ou nos próprios
MBAs de elevada carga teórica e pouco conhecimento prático. Creio que todos os
gestores públicos precisariam conhecer categorias do universo privado da gestão
como vantagem competitiva, singularidade, valor, mercadologia e meritocracia
para, assim, tentar colocar a casa de qualquer instituição em ordem. Ora, o
mundo tornou-se profundamente dinâmico e complexo nos últimos anos – e, por
isto, entenda-se um mundo em movimento que deve ser gerenciado por
profissionais da gestão.
Um mundo em movimento provoca impactos nas organizações
públicas – e deve, sim, deixar os seus gestores atentos e preocupados. Havia um
tempo em que a sociedade tolerava apenas o feijão com arroz – ou seja, o
basicão da gestão pública em que o mínimo era aceitável. O planejamento
estratégico, quando implementado, só focava a dimensão financeira e não
enfatizava o confronto da trilogia indicadores x metas x resultado. Nesse mesmo
tempo as mudanças demoravam a acontecer – e quase não aconteciam. O mundo, sem
exagero, era mais estático e os gestores públicos não precisavam ter múltiplas
habilidades – e nem precisavam conhecer a teoria da complexidade – onde a
gestão deve ser exercida em um universo de interdependência e redes
estratégicas.
Nos últimos decênios, todavia, o mundo tornou-se mais
dinâmico. Algumas empresas públicas tornaram-se mais inventivas – e mais
inovadoras e mais focadas na sociedade pela efetividade e não apenas pela
eficiência. Alguns governantes de países ricos abraçaram, de forma certeira, as
teses capitalistas da formação da riqueza para as diversas classes sociais.
Governos de países como Alemanha e Coréia do Sul, por exemplo, perceberam a
necessidade de um estado focado em resultados – sem necessariamente ser um
estado fraco.
Na América Latina três países passaram a se destacar na
nova realidade do movimento de geração de valor e resultado para a sociedade –
Colômbia, Chile e Brasil. Sem dúvida, o nosso Brasil é o destaque pela
imponência continental e pela dualidade de seu desenvolvimento nacional. Do
Governo Collor, pela sua abertura comercial até o Governo FHC o Brasil
experimentou fases sofisticadas de alinhamento ao movimento global: o mercado
se ampliou e novos competidores foram percebidos pelo consumidor. De Lula para
Dilma o movimento se intensificou – com grandes ganhos no quesito de melhoras
nos indicadores sociais e também avanços econômicos e tecnológicos conforme
conferidos por algumas empresas do mercado de capital.
Há, todavia, no quesito da gestão pública, um grande
desafio a ser vencido para o Brasil permanecer na rota do desenvolvimento
social e econômico – a diminuição das disparidades regionais. Vários
ministérios do Governo Federal – como o Ministério do Planejamento e Ministério
da Integração - estão buscando melhorar o processo de gestão através da prática
do planejamento estratégico e, pela sua execução, diminuir as disparidades
regionais.
A
busca para o planejamento estratégico ocorre quando o cenário que a organização
– ou o próprio país – está inserido é de muita incerteza e estranheza. De fato,
mesmo, o futuro é incerto e o presente é complexo até para as organizações
públicas – e todas as ações, então, necessitam estar alicerçadas pela prática
do planejamento conforme preceituam, inclusive, o PPA e a LDO. O que o governo
federal deseja, na prática, é prestar contas para a sociedade e isto só pode
ser realizado pela implementação do planejamento estratégico.
Digo
que apenas pela implementação do planejamento estratégico se pode falar em
monitoramento e avaliação de projetos – e fazer o inverso é um grande risco de
não ter o que se avaliar. Como avaliar o que não foi planejado? Como definir
metas se os indicadores não estão construídos? Como falar em indicadores se os
objetivos estratégicos não podem ser mensurados – ou factíveis? Não, por acaso,
uma ferramenta de medição de melhoria da gestão se dá pelo nome de PDCA[1] –
primeiro se planeja, depois realiza-se o que foi planejado, em seguida
confronta-se metas com resultados e, por último, faz-se a correção de rota se
preciso for. Isto é uma gestão focada em processos.
Nesta conjuntura toda – da necessidade do planejamento
estratégico – é que surge uma ferramenta de pode contribuir para o alinhamento
das estratégias organizacionais – de seus respectivos objetivos - até a
operacionalização das ações de qualquer autarquia: o BSC ou Balanced Scorecard.
Sim, é perfeitamente factível que essas organizações, pelo seu planejamento
estratégico, façam um alinhamento com o mapa estratégico dos ministérios que
estão vinculadas mas que, também, tenham os seus próprios objetivos
estratégicos, indicadores e metas bem definidos. É daqui que nasce o plano de
ação – portanto, é esta a única contingência de curto prazo que existe no
tratamento da estratégia.
A implementação do planejamento estratégico pelo BSC nas
organizações públicas deve começar pela atualização e definição de sua missão,
visão, valores e objetivos estratégicos dentro de quatro perspectivas:
processos internos, sociedade local, servidores e finanças. Depois, avança-se
para a construção dos indicadores e definição das metas da organização – ou de
cada unidade. O último passo é a elaboração do plano de ação. Avisa-se que é
perfeitamente possível a construção do plano de ação já alinhavado com o PDCA –
e é por este que se deve trabalhar o monitoramento e a avaliação da gestão
mediante confronto das metas que foram definidas e os resultados alcançados.
Deve-se
destacar, portanto, que a cultura de uma gestão focada no binômio indicadores x
metas é fruto de um modelo de gestão alicerçado em resultados – e igualmente resultado
de uma política de meritocracia e do próprio mundo em movimento. Portanto,
antecipar-se, na gestão pública, pela execução
do planejamento estratégico, é uma necessidade de sobrevivência das
organizações públicas – dos três níveis de governo - neste Brasil cheio de
incertezas, crises e riscos – mas também de oportunidades para gestores
públicos ousados e empreendedores.
[1] O Ciclo PDCA (em inglês
Plan, Do, Check e Action) é uma ferramenta gerencial de tomada de decisões para
garantir o alcance das metas necessárias à sobrevivência de uma organização,
sendo composto das seguintes etapas: Planejar (PLAN). Executar (DO).
Verificar, checar (CHECK) e Agir corretivamente (ACTION).
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