De
acordo com Paul Krugman, economista internacionalmente conhecido e articulista
do The New York Times, hoje temos gerações de profissionais criados na crença
de que a teoria keynesiana está errada. Compartilho para o debate o artigo,
inicialmente publicado no jornal americano, e que foi traduzido para o português
e publicado no link eletrônico da Revista Carta Capital.
O problema são os economistas
Paul Krugman
Mike Konczal defendeu recentemente no
Washington Post uma tese muito boa sobre como ensinamos Ciência Econômica. Ele
sugeriu que deveríamos voltar ao modo usado pelo economista Paul Samuelson, em
1948, quando escreveu a primeira versão de seu famoso manual: primeiro a
macroeconomia, depois a micro. Isso, explica Konczal, daria aos estudantes uma
melhor perspectiva da realidade, apesar de no final se cobrir o mesmo material.
Eu acrescentaria que os motivos por trás da
ordem de Samuelson se aplicam tão bem hoje quanto em sua época. Samuelson
escreveu quando a memória da Grande Depressão ainda estava fresca e os alunos
queriam saber como tais coisas podiam acontecer. Como ele conseguiu fazê-los levar
a sério aquela história da perfeição dos mercados, depois de tudo o que acabara
de suceder? Ensinando-lhes primeiro que a política monetária e fiscal poderia
ser usada para garantir o pleno emprego.
Seis anos depois do início da Grande Recessão
e da recuperação não tão grande, tudo isso parece novo, mais uma vez. Mas
existem alguns problemas sérios com a solução de Konczal, parte do que
Samuelson fez em 1948 não pode ser reproduzido hoje.
O que Samuelson trouxe para a Ciência
Econômica foi na verdade uma dose dupla de inovação, macroeconomia keynesiana
mais uma nova orientação para modelos matemáticos. Na época essas coisas
andavam de mãos dadas e se reforçavam mutuamente: o aparente sucesso da
macroeconomia keynesiana, orientada para modelos, venceu os institucionalistas.
Hoje, os economistas mais profundamente
empenhados em ver o mundo através de uma névoa de equações também tendem a ser
profundamente hostis em relação a qualquer tipo de macroeconomia capaz de
explicar a crise recente. Na época, Keynes também era novo e inovador. Hoje
temos gerações de economistas criados na crença de que a macroeconomia
keynesiana está errada. Eles não sabem o que há nela, na verdade, mas é o que
lhes ensinam.
Finalmente, se a microeconomia for
justificada com a alegação de que a política do governo garantirá mais ou menos
o pleno emprego, o que exatamente no mundo atual o inspiraria a acreditar
nisso?
Portanto, Konczal está certo sobre o que
deveríamos fazer. Mas não vai acontecer.
•
O problema da ciência econômica são os
economistas. Isso é em grande parte o que Simon Wren-Lewis afirmou em uma
recente postagem online, em que fez a defesa da corrente dominante da Ciência
Econômica. E eu concordo com a maior parte.
É profundamente injusto culpar a Economia dos
manuais pela crise ou pela fraca reação à crise. A mania de desregulamentação
financeira, por exemplo, não foi um produto da análise econômica convencional.
Na verdade, ela contesta o modelo canônico das crises bancárias, que sugeria um
papel crucial das garantias do governo para evitar o pânico que se autocumpre e
a necessidade de regulamentação para controlar o dano moral criados por essas
garantias. É verdade, poucos economistas acompanharam a ascensão dos bancos na
sombra capaz de contornar as salvaguardas tradicionais, mas esse foi um
problema de vigilância, não de teoria.
A teoria dos mercados eficientes,
possivelmente, merece mais culpa pelo fracasso de muitos economistas em
reconhecer a bolha habitacional, mas a economia dos manuais sempre apresentou a
teoria como uma linha básica, e não uma verdade revelada.
Quanto a reação à crise, foi notável a
determinação dos políticos em fazer o oposto do aconselhado pela macroeconomia
dos manuais. Cortar os gastos quando as taxas de juro são zero, agarrar
qualquer desculpa para aumentar os juros, tais políticas não equivalem a aplicar
a Ciência Econômica ortodoxa. Na verdade, foi surpreendente assistir à
proliferação de novos modelos recém-inventados para justificar que fizéssemos o
contrário do dito pelo curso do primeiro ano de economia.
O problema, claro, é esse não ser apenas um caso
de políticos nomeados, ignorantes ou de mentalidade agressiva, que ignoram a
sabedoria econômica: muitos economistas de prestígio também estavam ávidos para
dar as costas à macroeconomia tradicional, mesmo quando funcionava muito bem,
por causa de suas inclinações políticas.
E isso, creio, diz que há algo errado na
estrutura da profissão econômica. Parece que não precisamos tanto de outra
Ciência Econômica quanto precisamos de outros economistas.
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