quinta-feira, 10 de maio de 2012

Artigo: Finanças comportamentais: a hora de cuidar


Por Humberto Dalsasso (*)  

A relação com o dinheiro não é uma tarefa fácil visto que envolve múltiplos fatores, inclusive sociais, culturais, emocionais e técnicos.  Devemos ter, com o dinheiro, uma relação pacífica e amistosa, não devendo agredi lo nem permitir que ele nos agrida.  Mas que linguagem é essa se ele não tem boca para falar nem ouvido para escutar?
Ele não pode ser culpado nem deve ser agredido por nossos desequilíbrios econômico ou financeiros. Então, quem é o culpado? Somos nós mesmos. Excetuando-se as situações especiais (catástrofes, doenças, acidentes, crises econômico-financeiras e outros), cabe a cada um de nós construir o próprio equilíbrio econômico-financeiro ajustando o modus-vivendi às nossas possibilidades.
Isto não impede que aspiremos situações superiores e, com determinação, busquemos converter essa intenção em realidade. Fazer essa caminhada impõe reavaliações constantes e, quando se vive em família, é preciso fazer o alinhamento do grupo, já que cada pessoa tem seus hábitos, desejos e valores. Isto se consegue mediante a realização do que  chamo Assembléia de Família. Não só os pais, mas também os filhos precisam ser conscientizados da realidade e do objetivo que têm.
É bom que a gente não se esqueça de construir reservas, dentro das possibilidades, para as necessidades especiais futuras. Participar de  fundos de previdência e  de saúde são decisões importantes, principalmente para quem não tem uma aposentadoria adequada e consistente. Outra coisa importante é manter-se atento não só à situação econômico-financeira da família como a do País e do mundo, visto que elas nos afetam com diferenciais.  O desemprego, a inflação e outros fatores podem pressionar nossa situação e, dependendo dessas necessidades, maior ou menor precisará ser o esforço familiar.
Outro fator que pesa é a indução ao consumo superior à capacidade econômico financeira da família. Nenhum governante gostaria de ter crises em seu mandato. Aí, quando ameaças se ensaiam, em vez de conscientizar a população ao consumo responsável, utilizam a mídia, o crédito e outros recursos para estimular o consumo, inclusive desregrado (comprem, comprem, comprem ..). Evidentemente, a demanda ajuda a manter a economia mas, como nem todas as pessoas têm o bom senso do equilíbrio, muitas famílias se endividam muito além da capacidade. Isto ocorreu também no Brasil com a crise internacional de 2008. O estímulo ao consumo mais que duplicou o endividamento das pessoas. Como o grau de endividamento era baixo, em relação a outros países (Grécia, Espanha, Itália e outros países), a conseqüência não foi muito severa, embora tenha aumentado a inadimplência. Hoje, porém, já seria mais complicado. O crescimento do endividamento e da inadimplência exigem cuidado, visto que, em muitos casos, já foi suficiente para desestruturar famílias e sua fonte de renda (emprego).
A facilidade de utilização do crédito estimulado (inclusive o consignado) das compras a prazo e do uso de cartões de crédito foi forte estímulo ao significativo crescimento do endividamento e da inadimplência. As famílias devem tomar medidas preventivas para evitar a desestruturação. O dinheiro tem que ser nosso amigo e, também, precisamos respeitá-lo. Ferramentas adequadas poderão facilitar a tarefa e preservar as famílias.
No livro FINANÇAS COMPORTAMENTAIS: Orçamento Familiar, que escrevi, além dos conselhos e orientações, estruturei uma planilha de receitas, gastos e saldos diários, classificados em grupos, por exemplo: alimentação, saúde, lazer, veículos, aluguel e condomínio, comunicação e outros. Ao registrar os dados, a planilha vai mostrando  a receita, o gasto e o saldo diário e acumulado do mês. Ela totaliza, em Reais  e  em percentual, os dados acumulados e faz a representação gráfica mensal. Ao final do ano apresenta um resumo mensal.
Para facilitar e não ter que ir ao computador todos os dias,  imprime-se a planilha em branco e, em um minuto, anotam se os dados do dia, digitando-os ao final do mês, imprime-se a planilha mensal e se  analisam as contas. Se tudo estiver bem, vá ao sono tranqüilo. Havendo sintomas de desequilíbrio, analisam-se as contas e, na Assembléia de Família, discute-se a realidade e o alinhamento.  É uma tarefa tecnicamente fácil e rápida, que poderá reconduzir ao equilíbrio, sem atritos familiares e outros sacrifícios. Aí, então, além de mantermos a amizade recíproca com o dinheiro, evitamos desentendimentos familiares e preocupações que nos acompanhariam ao trabalho, afetando nosso desempenho e o clima organizacional.
É uma questão de querer fazer, tomar a decisão, converter a decisão em prática, acompanhar/avaliar os resultados e traçar diretrizes de redirecionamento.
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(*) Economista, Consultor Empresarial de Alta Gestão.
Fonte: http://www.cofecon.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=2500&Itemid=1

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