Por Carlos Roberto de Castro (*)
Embora a profissão de economista esteja comemorando hoje 59 anos de existência - reconhecida e regulamentada pela Lei nº 1.411 de 13 de agosto de 1951 - até hoje sua atividade é pouco compreendida pela sociedade, sendo, não raro, muitas vezes confundida por outras profissões.
Se citarmos o médico, o advogado, o engenheiro, por exemplo, prontamente se cria uma expectativa de quais sejam as atividades de cada um desses profissionais.
O problema do economista, contudo, é mais sério. As idéias são mais nebulosas. Deslocam-se de extremo a extremo. Ou nada é esperado do economista – que se tem como um mero colecionador de números; ou recebem-no com olhares interrogativos e ansiosos, como se fosse um mágico de capa esvoaçante que puxará, dentro de sua cartola, a solução imediata de todos os problemas sociais que até então se acumularam.
Mais exposto à opinião pública e mais diretamente vinculado ao sucesso ou insucesso do cenário em que atua, o economista é freqüentemente apontado como responsável pelos problemas econômicos que passam, invariavelmente, a ter cunho social.
E que contribuição positiva nós economistas podemos dar para a solução dos problemas que nos são confiados?
A resposta a essa indagação permite que se estabeleça, rapidamente, a figura do economista, que não é, somente, a do mero coletor de informações nem a do mago das respostas prontas.
O profissional economista se preocupa com um aspecto do comportamento humano: aquele que se origina do fato de as ambições dos homens serem maiores que sua possibilidade de satisfazê-las.
De forma resumida, questão econômica – em um conceito amplo – se configura quando estão presentes quatro condições:
1) múltiplos objetivos pretendidos;
2) possibilidade de apresentação desses objetivos em escala hierárquica;
3) insuficiência de recurso para o atendimento integral de todos os objetivos propostos; e
4) possibilidade de aplicação desses meios, alternativamente entre os diversos objetivos.
Em outras palavras, cada solução tem seu custo. Existe sempre um preço a pagar.
Atuamos no campo das ciências humanas e, portanto, trabalhamos com variáveis condicionadas, também, por fatores sociais e políticos.
Jamais conseguiremos eliminar completamente as margens de erro porque não podemos fazer experiências de laboratório, repetindo simulação de fatores idênticos
Na economia, diferentemente do que acontece na física ou na química, o átomo (o homem) pensa, antecipa, age e reage.
Ele percebe sua situação e procura melhorar sua situação
É a interação do comportamento de milhões de indivíduos, cada um pensando em si, com suas próprias expectativas, mas sujeitos a restrições do seu orçamento e do sistema de preços; ou seja, trata-se de uma ciência que procura descrever o comportamento de homens e mulheres produzindo, comprando e vendendo coisas.
Os economistas têm uma formação matemática que permite lidar com números com competência; uma formação histórica e sociológica que permite ter uma visão de conjunto das mudanças; um treinamento da expressão escrita e uma formação teórica consistente.
O Economista é, portanto, um profissional que a partir de um bom domínio da Ciência Econômica está capacitado para intervir no processo social, oferecendo a melhor contribuição específica sobre aspectos que são privativos de sua profissão. Ou seja, ele está apto a colocar a serviço da sociedade moderna um conjunto de conhecimentos científicos, acumulados e sistematizados ao longo de toda a história, tanto política, quanto social e econômica.
São essas regularidades que os economistas pretendem conhecer e utilizar para fins de política econômica. Cada cenário reúne condições novas, embora semelhantes aos fenômenos anteriores.
Nosso compromisso, como profissionais de economia é conhecer cada vez melhor nossa área de atuação e conhecer os instrumentos que essa ciência nos oferece para minimizar ao máximo as possibilidades de erro
Importa ter sempre em mente que o trabalho teórico tem uma destinação própria: Fazer compreender a realidade
Neste ponto vale a pena fazer uma avaliação sobre o dito popular corrente, e maliciosamente atribuído ao homem simples: "Na prática, a teoria é outra".
Se a teoria revela a incapacidade de explicar a prática, dois são os caminhos: aperfeiçoar a teoria ou rejeitá-la por completo
Do ponto de vista da economia, nada mais prático que uma boa teoria.
Mas é preciso compreender que a teoria deve ser aplicada ao momento histórico por quem conheça as suas limitações. É imprescindível que as condições reclamadas para sua validade estejam presentes.
Parece razoável, com um mínimo de bom senso, exigir, de quem usa um instrumento, que o mesmo saiba para que ele serve.
Ao aproximar-se de sua 3º Idade – a profissão completa 60 anos em 2011 - nos deparamos com um clamor recorrente da nossa categoria: a necessidade de alterações na legislação que regulamenta a profissão de economista, face às modificações e alterações que ocorreram no cenário econômico nacional e que tornaram a legislação própria não só desatualizada, como também incapaz de acompanhar a evolução da divisão do trabalho profissional, ao mesmo tempo em que enfrentamos a concorrência desleal de outros profissionais que interferem no nosso campo de trabalho.
Nos últimos anos surgiram novas atividades profissionais que passaram a requerer atividades já consagradas no campo profissional do economista, bem como de outras profissões que, realocadas, criaram outros mercados de trabalho com contornos de fronteiras difusos e imprecisos, diminuindo e cerceando as atividades do economista.
Apesar das dificuldades que enfrentamos não se pode negar, contudo, que o economista é um profissional que, graças à sua formação, tem se destacando cada vez mais no cenário nacional e internacional, nos mais variados campos de atividade, como participante das grandes decisões do governo e do setor privado.
Portanto, economista não é somente aquele que faz orçamentos, planejamentos, análises de investimentos etc. Mas é aquele profissional que, além de exercer todas estas funções, é capaz de pensá-las dentro de um contexto geral de todo o processo de distribuição e produção da sociedade.
Parafraseando o professor Armando Dias Mendes: “Não basta ser um bom Economista, é preciso ser um Economista bom”.
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(*) Ex-presidente do Conselho Federal de Economia (2002 e 2003)
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