Por Luiz Alberto Machado (*)
“A economia é um estudo da humanidade
na atividade comum da vida.”
Alfred Marshall
na atividade comum da vida.”
Alfred Marshall
Costumo dizer aos meus alunos no início do curso de Economia que a partir do momento em que iniciam um curso universitário, eles estão começando a buscar um diferencial em relação a qualquer pessoa: esse diferencial é o diploma que deverão obter ao final do curso. Isso fará deles economistas diplomados, ao passo que qualquer outra pessoa continuará sendo um economista sem diploma.
Por que isso?
É simples. Como os recursos são limitados e as necessidades humanas não, qualquer pessoa é obrigada a tomar decisões o tempo todo, escolhendo no que utilizar seus recursos escassos e renunciando, dessa forma, a inúmeras outras possibilidades alternativas. É por isso que também costumo dizer que mais do que a ciência da escassez, a Economia é a ciência da renúncia. Afinal, a cada vez que tomamos uma decisão, escolhendo onde aplicar nossos recursos, renunciamos a um número enorme de outras escolhas e isso nem sempre é fácil de fazer.
Esta é a razão pela qual afirmo que todos são economistas, pois a cada vez que tomamos uma decisão de como alocar nossos recursos, nós estamos agindo como economistas, independentemente de termos ou não um diploma.
Portanto, o problema econômico por excelência – válido para um indivíduo, uma empresa, uma instituição, um município, um estado ou um país – é o de compatibilizar necessidades ilimitadas com recursos limitados.
Na prática, no entanto, as coisas não são assim tão simples e a Economia é vista pela maior parte das pessoas como uma ciência extremamente complexa, enquanto os economistas – muitas vezes com razão – são vistos como um tipo de profissional que abusa de um palavreado próprio, só compreendido por seus pares ou por pessoas dotadas de uma inteligência superior.
Por essa razão, têm surgido nos últimos tempos diversos livros com o objetivo de mostrar que além de não ser uma área de conhecimento tão complexa assim, a Economia faz parte do dia a dia de qualquer pessoa.
O primeiro desses livros a fazer enorme sucesso, tornando-se um verdadeiro best seller em diversos países, foi Freakonomics, publicado em 2005 e que foi objeto de um artigo meu.
Nessa mesma perspectiva insere-se o livro Descubra o seu economista interior, de autoria de Tyler Cowen, professor de economia na George Mason University e autor daquele que é considerado o principal blog de economia em todo o mundo: www.marginalrevolution.com. Por sua capacidade de escrever de forma acessível sobre assuntos complexos, seus artigos são muito apreciados e, além de escrever regularmente para o New York Times, Tyler Cowen colaborou com diversos veículos de grande prestígio, tais como a revista Forbes, The Wall Street Journal, Newsweek, The Washington Post, Los Angeles Times e The Wilson Quarterly.
Com o sugestivo subtítulo Use a economia para se apaixonar, sobreviver ao seu próximo encontro e motivar seu dentista, o livro reconhece que os mercados podem simplificar nossas vidas, mas
a sacada econômica fundamental, por mais estranho que pareça, é que nem tudo pode ser comprado com dinheiro. Isso parece tão óbvio para o cidadão comum que a maioria de nós nem sequer pensa a respeito. Nosso Economista Interior sabe que dinheiro não compra amor, respeito, paz de espírito. Nossos chefes – ou empregados – sabem que um bônus não vai resolver todos os problemas do local de trabalho. Se não pode ser comprado com dinheiro então simplesmente não existe mercado para o objetivo de desejo.
Já que não existem mercados por todos os lados, temos de motivar as demais pessoas, e motivar nós próprios, para chegar aonde queremos. Compreender e lidar com esse problema é a função deste livro. Usar incentivos e usar mercados das formas mais efetivas é muito mais difícil do que simplesmente sair para comprar uma banana.
Não possuindo – como a maior parte dos livros atualmente publicados – nem prefácio nem introdução, o capítulo 1 – Eu quero uma banana, eu compro uma – desempenha, de certa forma, esses dois papeis, apresentando uma excelente visão do que será visto no decorrer dos 10 capítulos e das 250 páginas do livro.
Nesse capítulo, o autor chama a atenção para a difícil convivência entre a economia teórica e a economia aplicada, algo perfeitamente compreensível numa área do conhecimento em que
a complexidade e diversidade das motivações humanas deveriam estar subjacentes às próprias fundações do raciocínio econômico. O modo como as pessoas determinam suas escolhas em geral depende do contexto social, como que motivações percebemos naqueles que nos cercam e como achamos que nossos colegas nos vêem. Se queremos tomar decisões melhores de modo a conseguir mais das boas coisas da vida, devemos aprender a distinguir um contexto social de outro. [...] temos de imaginar como as outras pessoas identificam e distinguem diferentes contextos e desse modo o que acham que estão fazendo e o que acham que nós estamos fazendo. Precisamos compreender as crenças humanas.
Essa difícil convivência leva o autor a afirmar que “a economia aplicada é tanto uma arte como uma ciência” e a reconhecer que “os economistas não podem solucionar todos os nossos problemas, mas contemplar a complexidade da motivação humana ajudará a tomar melhores decisões”. A partir dessa ótica, o autor apresenta as duas ferramentas básicas por meio das quais a vida comum será examinada ao longo do livro:
· a compreensão do poder (e dos limites) dos incentivos; e
· um reconhecimento da complexidade e diversidade dos seres humanos.
Tyler Cowen dá especial ênfase também às complicações decorrentes do uso exagerado de uma retórica que, aparentemente, não consegue distinguir o que é sofisticado do que é rebuscado.
Como profissionais de qualquer campo, os economistas tendem a se esconder atrás da terminologia e do jargão. Nós economistas temos um fraco em particular por esmiuçar nossas afirmações a ponto de obscurecê-las. Harry Truman certa vez pediu que lhe arrumassem um economista de um braço só, assim ele não iria ouvi-lo dizer “on the other hand...”.
Tal observação se assemelha à da primeira ministra Margaret Thatcher, que – dotada do mesmo sentimento – afirmou: “Pessoas normais viajam numa estrada; economistas viajam numa infraestrutura”.
Ciente desse exagero tão comum a seus colegas economistas, Tyler Cowen cita três princípios básicos capazes de distinguir a boa economia (aquela que é compreensível para as pessoas comuns) da má economia (repleta de ciladas de desumanidade, de verborragia e de excessiva embromação):
1. O Teste do Cartão-Postal
Deve ser possível tomar um bom argumento econômico e escrevê-lo no verso de um cartão-postal de tamanho razoável. Se um argumento tem passos demais, pelo menos um deles fatalmente estará redondamente incorreto. Ou, ainda se tem passos demais, não saberemos como todos esses diferentes passos se encaixam uns nos outros para estabelecer a conclusão do argumento.
Quando meus alunos de pós-graduação me aparecem com ideias novas, a primeira coisa que faço é dizer com a voz mais desagradável de que sou capaz: “Traga-me a versão de cartão-postal.” Os que já me conhecem bem entram em minha sala gritando: “Eu tenho o cartão-postal!” os que dizem que é necessário ler todo seu ensaio de 46 páginas para captar a mensagem central são mandados de volta à prancheta de trabalho.
2. O Teste da Vovó
A maioria dos argumentos econômicos deve ser compreensível para sua avó. A vovó pode até não concordar, mas no mínimo precisa entender do que o economista está falando. Se a vovó é a economista da família, e abusa ela própria do jargão, tente um de seus recalcitrantes primos.
3. O Princípio do "A-há"
O Princípio do "A-há" é uma extensão do Teste da Vovó. Se os conceitos básicos forem bem apresentados, o economês tem de fazer sentido. Bons economistas acreditam que vivemos nossas vidas segundo princípios que qualquer um pode entender. Talvez aconteça de nem sempre compreendermos o que estamos fazendo quando tomamos decisões, mas os argumentos econômicos e os mecanismos devem ser reconhecíveis. Afinal de contas, o argumento é sobre nós. Assim, se alguma observação econômica claramente expressa é objetiva, deve estimular as áreas “A-há” [também conhecidas pelos nomes de “eureka” e “insight”] de nosso cérebro. Sei que isso pode soar um pouco metafísico, mas a ideia é que uma observação econômica claramente expressa deve de fato fazer alguma diferença para nós no nível pessoal. Ela tem de ser uma revelação.
As duas ferramentas e os três princípios básicos estarão presentes em todo o livro, pois é com eles que Tyler Cowen analisará, nos capítulos seguintes, aspectos super abrangentes e, pelo menos supostamente, desvinculados da economia, entre os quais: como controlar o mundo; possua toda grande arte que já foi criada; mantenha a boa imagem em casa, em um encontro ou numa sessão de tortura; a perigosa e necessária arte de se autoiludir; coma bem, bananas à parte; evitando os sete pecados capitais (ou não); como salvar o mundo – mais presentes de Natal não vão funcionar; e, por fim, Seu Economista Interior e o futuro da civilização.
Embora não tenha o mesmo impacto que o pioneiro Freakonomics, o livro consegue, em minha opinião, atingir o objetivo a que se propõe, razão pela qual recomendo sua leitura não só para os economistas diplomados, mas também para todos aqueles que estão o tempo todo decidindo e agindo como economistas.
Iscas para ir mais fundo no assunto
Referências e indicações bibliográficas
COWEN, Tyler. Descubra o Seu Economista Interior: use a economia para se apaixonar, sobreviver ao seu próximo encontro e motivar seu dentista. Rio de Janeiro: Record, 2009.
DUBNER, Stephen J., e LEVITT, Steven D. Freakonomics: o lado oculto e inesperado de tudo o que nos afeta: as revelações de um economista original e politicamente incorreto. Tradução de Regina Lyra. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.
Referências e indicações webgráficas
MACHADO, Luiz Alberto. Leitura imperdível – Freakonomics. Disponível emhttp://www.lucianopires.com.br/idealbb/view.asp?topicID=3631.
Professor Eduardo, obrigado por essa aula, apesar de estar nos recomendando uma leitura sua forma de fazer isto é muito sútil e objetiva, coisa que falta a muitos docentes de Economia, mais uma vez obrigado por mais esta contribuição na minha formação diária como Economista.
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