Por Fernando de Aquino Fonseca Neto (*)
O espaço do economista no mercado de trabalho no Brasil tem sido restringido pela visão que se formou desse profissional. As definições de economia, dentre as quais uma mais inteligível seria “a ciência que trata dos fenômenos relativos à produção, distribuição e consumo de bens e serviços”, evocam uma disciplina de natureza acadêmica, aplicável apenas às discussões da atuação dos governos no ambiente econômico, ou ainda às perspectivas de diversos mercados, em escala global, nacional ou local. É analisando esses temas e eventos que o economista tem tido frequente exposição na mídia, o que faz parecer que o seu espaço seria apenas o de estudioso acadêmico. Outro espaço de atuação reconhecido pela opinião pública seria como especialista em mercado financeiro – habilitado a identificar as melhores oportunidades de compra e venda de ações e títulos, assim como as mais adequadas opções de aplicações financeiras e de financiamentos para indivíduos e empresas.
De fato, a área acadêmica e o mercado financeiro são fortes áreas de atuação dos economistas – no Brasil e no mundo poucas áreas seriam comparáveis em quantidade e qualidade de mestres, doutores, periódicos científicos e instrumental metodológico; assim como em formação e habilidades para um desempenho diferenciado no mercado financeiro. Entretanto, em várias outras atividades o envolvimento de economistas é vantajoso não só por ampliar o seu campo de atuação, mas pelo seu potencial de prestar serviços mais adequados que outros profissionais, sempre que sua formação específica possibilitar, elevando a eficiência na utilização dos recursos, com implicações favoráveis sobre os resultados do contratante e, como a própria teoria econômica postula, sobre o bem-estar social.
Mas qual seria esta formação específica? Muitos reclamam, sobretudo os próprios economistas, dos conteúdos dos cursos serem muito teóricos e abstratos, não lhes capacitando para atender às demandas do mercado. Em que pese a importância do aumento de conteúdos de aplicação mais direta, deve-se admitir que é justamente essa sólida formação teórica que permite um efetivo acompanhamento da conjuntura econômica, até em escala global, e uma correta interpretação do comportamento dos mercados de interesse. Agregue-se a essa formação o domínio de instrumentos bem específicos dos economistas, como cálculo financeiro, econometria e análise de insumo produto. Antes mesmo da reserva de mercado legal, disso resultam as suas vantagens em várias atividades.
As demais profissões são dignas de todo respeito e reconhecimento nas atividades em que suas formações são mais adequadas. Dentre os que interagem com mais freqüência com os economistas, vale citar os administradores, os contadores e os engenheiros. Longe de querer rotular ou limitar a atuação de qualquer profissional, o foco do administrador seria a gestão das diversas áreas de uma instituição; do contador, o registro das alterações e levantamento de demonstrativos do patrimônio de uma instituição, e do engenheiro, a identificação das soluções mais adequadas para demandas no âmbito físico. Assim, o administrador se envolve na gestão de todas as áreas, o contador se apresenta para assumir as demandas de natureza financeira e o engenheiro é dotado de um treinamento que lhe confere grande habilidade para atividades de natureza analítica, mas esses profissionais não retiram a utilidade do economista para empresa, como funcionário e/ou como prestador de serviços.
Embora com demanda consolidada no mercado financeiro e nas atividades de pesquisa, em universidades, instituições de pesquisa e consultorias, os economistas sofrem a concorrência de outros profissionais em atividades nas quais teriam a formação mais adequada. Nessa situação, vale citar três exemplos – planejamento, projetos e perícia. Deve-se esperar que equipes multiprofissionais tenham desempenho melhor em tais atividades, mas a presença de economistas seria indispensável para a obtenção de resultados de alto padrão, principalmente em função de sua formação voltada para entender o ambiente macro e microeconômico. Essa capacidade em outro profissional é improvável e tende a ser inadequada, podendo ser difusa, superficial ou representar mera opinião.
Nas atividades de planejamento, seja no setor público ou privado, a elaboração de cenários macro e microeconômicos é indispensável. No mesmo sentido, a elaboração de projetos de viabilidade econômico-financeira exige a identificação de dimensões, momentos e ritmos dos projetos que demandarão pesquisas de mercado e correto acompanhamento da conjuntura e tendências econômicas. Enquanto na perícia econômico-financeira, a utilização de cálculos financeiros e econométricos, além da aplicação de indicadores econômico-financeiros, são requeridos, fazendo do economista o profissional mais habilitado. Observe-se que a perícia econômico-financeira é muitas vezes erroneamente denominada perícia contábil, o que não modifica a sua substância nem a torna privativa do contador. Em particular, essas três atividades citadas são bons exemplos das que seriam mais adequadas à formação do economista, mas muitas vezes são desempenhadas pelo contador, sobretudo por estarem mais próximos das empresas no exercício de suas atividades privativas de registros e elaboração de demonstrativos contábeis.
Apenas para preencher planilhas e formulários não é preciso ser economista, assim como apenas para cortar alguém com o bisturi não é preciso ser cirurgião. Então, que tal fazer uma cirurgia plástica com um esteticista? Afinal de contas, os barbeiros, que já cortavam os cabelos dos clientes regularmente, eram aproveitados para eventuais extrações de dentes. Porém, nesse serviço nós já evoluímos.
(*) Fernando de Aquino Fonseca Neto é doutor em economia pela Universidade de Brasília e presidente do Conselho Regional de Economia de Pernambuco (CORECON-PE)
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