Estou convencido de que precisamos reinventar a nossa profissão, e esta reinvenção precisa começar na forma como ensinamos e aprendemos economia. Falando em ensino de economia, relatos apontam que em 1795 fora feita na França uma tentativa de criação de um Curso de Economia Política sem, entretanto, obter continuidade. Somente em 1819 sobre a liderança de Jean-Baptiste Say foi que o Conservatório de Artes e Ofícios da França implantou o primeiro Curso de Economia Política. Na Inglaterra há relatos de que Thomas Robert Malthus criou no ano de 1805 a cadeira de História, Comércio e Finanças no East India College. Contudo, o primeiro Curso de Economia Política da Inglaterra foi implementado na Universidade de Oxford no ano de 1825 sob a liderança de Nassau Senior. Já em Portugal o primeiro Curso de Economia Política surge em 1836 na Universidade de Coimbra.
No Brasil a Faculdade de Ciências Políticas e Econômicas do Rio de Janeiro, criada no ano de 1909 e reconhecida por decreto no ano de 1926, foi a primeira faculdade de economia estabelecida no Brasil. No Pará o ensino de economia foi resultado do empenho de Armando Correia Pinto – e é por causa disto que o CORECON-PA o homenageia anualmente dando o seu nome a premiação da melhor monografia de conclusão de curso de graduação durante a Semana do Economista – que liderou dentro da Fênix Caixeiral Paraense a criação da Faculdade de Ciências Econômicas, Contábeis e Atuariais, autorizada a funcionar no ano de 1947 e iniciando efetivamente as aulas no ano de 1949.
Atualmente existem três cursos de graduação em economia em funcionamento no estado do Pará, o Curso de Ciências Econômicas da Faculdade de Economia da Universidade Federal do Pará (UFPA), o Curso de Ciências Econômicas da Universidade da Amazônia (UNAMA) e o Curso de Ciências Econômicas das Faculdades Integradas do Tapajós (FIT), além do Programa de Pós-Graduação em Economia da UFPA, que possui atualmente o único curso de mestrado em economia em funcionamento na Amazônia.
Aqui chegamos a um assunto nevrálgico. Quando falamos da atuação profissional do economista há um tripé analítico básico: legislação profissional, fiscalização e formação. Bem, deixemos os dois primeiros e fiquemos com a formação profissional.
É comum escutarmos referência a existência de uma crise na profissão. Ao menos alguns indicadores apontam para isto: queda na demanda pelo vestibular, não fechamento de turmas em universidades privadas, fechamento de cursos, queda na qualidade dos alunos que adentram o curso, alunos desinteressados, alto índice de evasão, queda no número de formandos, baixo número de novos registros profissionais e aumento na quantidade de pedidos de cancelamento de registro nos Conselhos. Bem, por enquanto vamos ficar apenas com a questão do ensino e eu por ser professor da UFPA vou tecer comentários a luz do que vejo em minha universidade. Em relação às outras instituições de ensino não tenho vivência para tecer nenhum tipo de comentário.
Ano passado me ofereci para lecionar no primeiro semestre a disciplina Introdução a Teoria Econômica. Quis trabalhar com os calouros. Acho que este é o momento certo para colocar os alunos em uma trajetória acadêmica adequada. A docência é sem dúvida uma vocação. Muito mais do que passar conhecimento teórico compete ao professor transformar vidas. Não pude deixar de recordar de dois autores, Karl Marx e Paulo Freire. O primeiro, reconhecido por ser um dos mais brilhantes economistas de todos os tempos e que alterou radicalmente os rumos de todas as ciências sociais advogando que muito mais do que interpretar o mundo de várias maneiras competia aos filósofos modernos a sua transformação. Roubei esta idéia e a adaptei para os economistas, aqui confesso este crime. O segundo, conhecido internacionalmente como o mentor da educação para consciência, ensinou durante muito tempo, e continua ensinando, que ao educador compete levar o aluno a um processo de libertação a partir do momento em que a tomada de consciência de sua situação permite ao mesmo tornar-se sujeito de sua própria história. Ou seja, educação não é mera transmissão de conhecimento, é dar oportunidade ao aluno para que ele mesmo possa produzir em determinado momento conhecimento.
Todo bom educador busca desenvolver em seus alunos a consciência crítica e a autonomia intelectual. É um processo de incitação a curiosidade, de busca pelo novo e, principalmente, de superação de desafios e limitações. É, por outro lado, um processo dialético e social. Ninguém aprende sozinho e ninguém possui a verdade absoluta. É um processo interativo, no qual aluno vira professor e professor, aluno. Neste processo conhecimento, culturas e valores são compartilhados. Pontos de vistas, muitas vezes, modificados. Olhos, “abertos”.
Todo bom educador deve ter por objetivo derradeiro a ampliação dos horizontes de possibilidades de seus alunos, ajudando-os na construção de um futuro melhor. Em última instância é um idealista por natureza. Busca transformar a sociedade por meio da difusão do conhecimento, da tomada de consciência individual e coletiva e do desenvolvimento da autonomia intelectual. Ser educador não é ter uma profissão, é viver uma vocação. A sala de aula é um momento de gozo, de alegria, de compartilhamento, de auto-realização. Ver os avanços, o desenvolvimento dos alunos com o passar do tempo é a melhor recompensa que um educador pode ter. Por isso, o educador não poder cauterizar o seu coração e se desviar de seus ideais em função de obstáculos que surgem ao longo de seu caminhar.
O verdadeiro educador deve saber claramente quais são os seus limites e antes de qualquer coisa também saber se impor limites. Mais ainda, deve aprender com os limites e usar estes para ensinar. Educar é viver, é sonhar, é rir, é chorar e também se decepcionar. Mas usar todas as experiências da vida para aprender e ensinar. Somente assim podemos fazer da universidade uma instituição capaz de transformar vidas e a própria sociedade.
Eureka! A reinvenção de nossa profissão passa fundamentalmente pela revolução na forma como ensinamos economia. Precisamos de mais professores interessados, verdadeiramente comprometidos com o que fazem e com o projeto pedagógico de suas universidades. O bom educador prepara aula com antecedência, não falta aula, chega no horário e cumpre o seu horário. Entra em sala motivado e sabe motivar os alunos. Mais do que isto, vive a universidade e não aparece somente para dar a sua aulinha. Ademais, ele é um crítico de si mesmo. Será que a minha aula está boa? Estou atualizado? Estou passando o conhecimento adequado? Enfim, mais do que professores, precisamos de educadores e de referências para os alunos em nossas salas de aula. Bem, mas o processo educativo envolve também outro ator, o aluno. Mas isto é assunto do próximo ato...
Excelente artigo.Parabéns Profº Eduardo!
ResponderExcluirAcredito que precisamos refletir sobre diversos pontos: Será que estamos mesmo construindo conhecimento? Ou replicando/ou criticando? Mas ainda há outros pontos a serem considerados.Talvez precisamos ser mais provocados e melhor ensinados - procurar entender e compreender o que esta ao nosso redor.
Enfim...Obstáculos são muitos....mas o bom é poder enfrenta-los.
Mas uma vez parabéns!Ótimo ter colocado esse tema no blog.