Hamlet na obra prima de Shakespeare defronta-se com uma escolha ética que o coloca no centro de uma querela existencial. Quem dera todos os alunos de economia no decorrer do curso, melhor que fosse ainda no início, refletissem sobre o seu projeto de vida. O que noto em meus alunos é que poucos têm efetivamente um projeto de vida. E destes, grande parte não está disposto em incorrer nos custos de oportunidade, ou seja, não se dispõe a pagar o preço por uma boa formação, que exige sem dúvida certo sacrifício, horas dedicadas à leitura e a reflexão.
Estou convencido de que o conhecimento não se pega por osmose. Há quem acredite nisto, mas o estabelecimento de metas pessoais, seja um concurso público, uma carreira em uma empresa privada, uma especialização, um mestrado ou um doutorado, caminha em paralelo com dedicação e sacrifício. O insucesso profissional não pode ser atribuído ao curso ou aos professores que o indivíduo teve. Culpar terceiros é a melhor forma de se eximir da responsabilidade pessoal pelo fracasso. O pacto de mediocridade precisa ser rompido. Chega da hipocrisia de que um finge que ensina e outro finge que aprende.
Ser um bom “ornitorrinco”, que dizer um bom economista, exige dedicação e em muitos momentos a superação dos próprios limites. Outro dia, dado aula para os meus alunos, e refletindo com eles sobre a formação profissional e a construção de um projeto de vida, fiz alusão à história da lebre e da tartaruga que todos nós em algum momento de nossa infância já a escutamos. O mercado de trabalho está cada vez mais concorrido. Exige profissionais com domínio amplo de uma série de ferramentas, uma visão holística de mundo. Percebo que o economista, dada a sua formação, deveria ser o profissional mais habilitado para se destacar neste cenário. Isto mesmo, você não leu errado. Deveria! Na prática percebemos que temos perdido espaço para outros profissionais que em tese não possuem a mesma solidez de formação que o economista. Isto me lembra a história da lebre e da tartaruga. A lebre confiante em sua destreza passa a menosprezar a tartaruga e resolve tirar um cochilo. É neste momento que a tartaruga, dando um exemplo de determinação, supera a displicente lebre. Muitos estudantes de economia e até mesmo economistas estão ainda dormindo no berço esplêndido de nossa formação e estão perdendo espaço para outros profissionais. São como o jóquei que monta no mais veloz cavalo e perde para aquele que está sobre um pangaré. Lição: a persistência quase sempre vence a destreza displicente.
Ao lado disto, a pós-modernidade construiu a sociedade do individualismo. Os projetos sociais e coletivos são subjugados pela agenda pessoal e individual. É neste momento que muitos entram em uma rotina diária que chega as beiras do insuportável. Uma rotina da compressão do tempo, na qual não sobra tempo para o que realmente importa. Muitos estão lendo estas linhas com pressa, pensando em uma série de coisa que ainda estão pendentes. Alguns nem sequer chegarão a terminar esta leitura, se é que chegaram até aqui. A grande maioria já acorda atrasada e passa o dia inteiro como se o mundo fosse acabar daqui a pouco. Estamos construindo uma sociedade doente, com valores distorcidos.
As pessoas não são mais julgadas pelas suas condutas éticas e morais. Mas pelo que possuem como patrimônio ou pela capacidade que detêm de influência política e/ou econômica. O verbo ser foi substituído pelo verbo ter e a crise moral e ética é notória, está diariamente em destaque nos jornais e telejornais. Não há escrúpulos que impeçam a gana de enriquecimento pessoal. Os fins justificam o meio. A meta dominante em nossa sociedade é o acumulo pessoal de riquezas, infelizmente em muitos casos por meio de atalhos. Para mim é curioso quando achincalhamos a nossa classe política. Curioso porque ela reflete os valores de nossa sociedade. Não vejo diferença entre aqueles que enfiam dinheiro na cueca ou aqueles que tentam burlar a ética acadêmica levando e se valendo de cola em uma prova para a qual não estudou. É tudo uma questão de oportunidade. A nossa sociedade está doente e nós precisamos trazer as questões morais e éticas novamente para o centro do debate.
Por que falo disto ao falar sobre o aprendizado em economia? Falo porque precisamos resgatar o verbo ser nas universidades. Os alunos precisam refletir muito mais no que eles serão do que o que eles terão. Neste caso a posologia é simples, mas envolve uma mudança de mentalidade. Envolve: dedicação aos estudos, construção de um projeto de vida, incursão em determinados momentos em custos de oportunidade e acima de tudo em uma alta dose de reflexão pessoal. Construindo o ser o ter passa a ser quase que uma conseqüência natural. Assim, fazendo isto eles não estarão batendo a porta do Conselho pedido urgentemente uma reciclagem profissional para obterem um grau mínimo de empregabilidade porque aquele “padrinho” não conseguiu o emprego que havia prometido (sic). Eu já tive que escutar isto!
A verdade é que o curso está na atual condição por diversos motivos, e a responsabilidade é de ambas as partes, discentes e docentes. Quanto ao fato de que no geral os alunos não dedicam-se o suficiente, como alegam os professores, isso é uma verdade. Porém nós possuímos a justificativa de que não somos estimulados pela grande maioria dos educadores. Justificar, não é a solução eu sei. Mas assim como já foi dito anteriormente neste post, é preciso que ocorram mudanças, e mudanças dos dois lados. O aluno sozinho não é capaz de qualificar-se e adequar-se às exigências do mercado. Por isso considero de suma importância um orientador(a), que lhe ajude de alguma forma a trilhar um caminho rumo ao sucesso. Que incentive, apoie e quando necessário também corrija. Alguém que o acompanhe desde o início, e não apenas no momento de realizar a sua monografia. A partir disso dependeria apenas da vontade do estudante em dedicar-se à sua formação profissional. Porém infelizmente, este não é o quadro que precensiamos no geral. A impressão que fica é que as gerações mais antigas esperam que a nova geração surja, como um Messias enviado dos céus para salvar o curso. E obviamente este não é o caso.
ResponderExcluirPrezado Eduardo,
ResponderExcluirGrande texto como sempre. Mas, você percebe que os times quando ganham um torneio ficam bons? Tem-se um estudo socioeconômico sobre os alunos da universidade? ou sobre o que eles pensam dos professores? que tal realizar uma avaliação sobre o desempenho dos professores? Soube de uma avaliação nas universidades da Alemanha sobre os professores e o resultado foi ruim.
Ótimo tema abordado no Blog. Precisamos de muitas reflexões sobre o que aprendendo, ou fingindo que aprendemos....
ResponderExcluirMais uma vez Parabéns Profº Eduardo