Escrito
por Lúcio Flávio Pinto
O
Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da Universidade Federal do Pará completou 40
anos. A comemoração parece ter sido apenas interna. Não repercutiu junto à
opinião pública, como seria de se esperar. A data podia servir de motivação
para uma análise da história do NAEA e da posição que assumiu hoje e pode
representar amanhã.
Para isso, a instituição
devia se abrir para a crítica e autocrítica, o que não aconteceu. Parece
indicar uma tendência à acomodação e uma visão voltada para sua função no mundo
acadêmico, por trás dos muros da universidade, que prevalece sobre o desejo de
vários dos seus integrantes de abertura ao complexo mundo amazônico, que tanto
precisa do toque dos intelectuais.
Quando
o NAEA surgiu, provoquei seus criadores apontando o que podia ser excesso de
pretensão de um instituto batizado como sendo de altos estudos. A inspiração
parecia ser humanista, sob as bênçãos europeias (especialmente francesa), mas a
linha dominante na abordagem era econométrica.
Seus
principais integrantes queriam quantificar a realidade para conferir um valor
cientifico à pesquisa, em contraste com o impressionismo e empirismo
característico dos estudos realizados até então, sobretudo fora dos muros
acadêmicos. O problema era que, sob a forma do rigor no tratamento dos dados, a
veracidade da informação podia ser comprometida.
A
técnica de reconstrução de dados históricos pode oferecer esse risco se a fonte
primária não for adequada para esse tipo de extrapolação. Essa questão está
posta naHistórica Econômica da Amazônia, de Roberto Santos, o mais
importante livro com essa abordagem já publicado. Roberto explorou essas
possibilidades da quantificação nolimite do seu potencial e da sua impotência,
avançando nos dois sentidos com coragem e determinação intelectual.
Travei
polêmica com o principal personagem nas origens do NAEA, Armando Mendes, e com
seus colegas do curso de economia da UFPA que participaram da empreitada. E
atuei também no momento em que o bastão de mando do instituto passou das mãos
da economia para a sociologia, com a vitória de Heraldo Maués sobre Nelito
Pinto da Silva. O último debate antes da eleição, travado no auditório
do Idesp (despejado da sua sede e do seu patrimônio pelo iracundo
governador Almir Gabriel), foi memorável para que essa mudança acontecesse. O
NAEA estava no mundo. Onde é que está agora?
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