terça-feira, 12 de abril de 2011

Do Emprego para a Empregabilidade

O estado do Pará está vivenciando uma onda de investimentos públicos e privados que vêm gerando significativos impactos multiplicadores em sua economia. Reflexos disto pode ser notado em múltiplas declarações ufanistas de que o Pará é o “estado do momento”, ou se constituirá no “mais importante estado da federação”, ou em poucos anos será um dos estados brasileiros que possuirá a “economia mais pulsante”.
Pesquisas recentes mostram que de fato vivemos um período de crescimento econômico com geração de emprego e renda. Este cenário aponta para o fato de que o Pará irá gerar até 2014 mais de 120 mil postos de trabalho. Somente até o final do ano de 2010 estimativas apontam que serão gerados mais de 32 mil postos de trabalho. De acordo com os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), elaborado pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), o Pará registrou de janeiro a julho do corrente ano 26.733 admissões, contra 20.640 demissões, restando um saldo positivo de 6.093 novos postos de trabalho. Os dados do CAGED mostram, por outro lado, que o Pará foi responsável neste período por mais da metade dos empregos formais gerados na Região Norte.
Grande parte deste dinamismo econômico é decorrente da expansão do agro-negócio, e do processo de verticalização da produção mineral, principalmente o Projeto Salobo em Marabá, o Projeto Onça Puma no município de Ourilândia do Norte, e a implantação de uma usina siderúrgica em Marabá. Pegando somente este último empreendimento, somente em sua fase de construção está previsto a geração de 16 mil empregos diretos; e mais 5.300 empregos diretos, entre próprios e terceirizados, na fase de operação. Além disto, ainda temos importantes obras de infraestrutura em fase de construção ou com previsão de execução dentro de um horizonte de curto e médio prazo.
O dito boom da construção civil acaba sendo um reflexo deste dinamismo. Sabemos que a construção civil acaba se constituindo como um importante termômetro da economia e das expectativas dos agentes. Basta andarmos pelas ruas de Belém que é notório que o setor encontra-se aquecido. Entretanto, todo este dinamismo é preciso ser observado com cautela e com ações estruturantes por parte dos gestores públicos.
Hoje a discussão principal no estado do Pará não é mais a geração de emprego. Passou a ser a questão da empregabilidade, termo de utilização recente que designa a capacidade que a força de trabalho tem para se adequar as necessidades do mercado. Com base nisto, duas perguntas precisam ser feitas e respondidas. Em que medida os paraenses de nascimento ou de opção estão aptos a acessarem estes promissores postos de trabalho? Que mecanismos vão impedir que migrantes vindo de outros estados ocupem as vagas abertas e os paraenses fiquem mais uma vez marginalizados no processo?
É preciso lembrar que estamos diante de uma enorme oportunidade para induzirmos a mobilidade social em nosso estado. Todavia, há a necessidade urgente de elaboração e implementação de políticas públicas adequadas de modo que o nosso povo adquira empregabilidade, e se torne apto a acessar os postos de trabalho que serão gerados.
Estimativas do IBGE apontam que nos próximos 4 anos cerca de 500 mil pessoas adentrarão ao estado do Pará na busca de melhores oportunidades e emprego. Estes migrantes de um lado concorrerão com os atuais moradores do estado, de outro promoverão impactos significativos em nosso meio urbano. Mas será que a nossa população está apta a concorrer com os forasteiros?
Dados do último Censo Populacional do IBGE, realizado no ano de 2000, apontam para o fato de que a taxa de analfabetismo entre crianças de 7 e 14 anos era de 24%, e de adultos era de 16%. Hoje estas crianças já se encontram no grupo da população economicamente ativa. Daí, surge um questionamento, que tipo de empregabilidade possui um analfabeto? Dados divulgados recentemente do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), demonstram que o estado do Pará possui uma das piores redes de ensino públicas. Ficamos em último lugar no ranking nacional.
A nossa população possui empregabilidade? Quantos estão aptos a acessarem os postos de trabalhos que serão gerados? Mais uma vez a nossa população vai olhar a festa sem ser convidada para o banquete? Questões como esta trazem mais uma vez a tona a importância do planejamento e das políticas públicas, de modo que o nosso povo possa adquirir a necessária empregabilidade, e possa participar ativamente deste processo virtuoso, almejando a tão sonhada mobilidade social. 

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