Por
Francisco Ferraz. Publicado em 17/01/2014 no sitio eletrônico de Política para
Políticos.
Há momentos em que é preciso “cortar” o
orçamento e inibir despesas para “fechar as contas”. Este é sempre um momento
difícil para o administrador. Cortar o orçamento é obviamente muito mais difícil
do que incrementá-lo. Muitas vezes os cortes precisam ser feitos durante um
período de crise, ou imediatamente antes da crise se instalar. Nestas
situações, a análise feita é inevitavelmente menos detalhada e minuciosa do que
aquela que foi realizada quando se produziu
o orçamento.
Além disso, cortar implica em afetar a vidas
das pessoas dentro e fora da
administração: empregos, projetos, prestígio, necessidades básicas, redução da
prestação de serviços etc.
O desgaste político, então, é inevitável, a
imagem pública sofre, e explicações são exigidas. Por isso, é fundamental
conhecer as verdadeiras razões que tornaram o corte necessário, para adotar as
medidas corretas, na quantidade certa, de forma a evitar, de um lado, a prática de uma “mutilação” desnecessária do
orçamento, e de outro, cortes que se revelem insuficientes. É preciso encontrar
a medida exata para corrigir o problema.
Rever estimativas de
receitas
Algumas vezes ocorre que os administradores
fazem cortes expressivos nos programas, sem antes rever as estimativas de
receita que haviam sido projetadas. Pode acontecer que, as estimativas de
despesas foram previstas corretamente, mas as de receita foram calculadas de
forma conservadora, abaixo do seu real comportamento. Nestes casos, os cortes
poderão se revelar desnecessários. Uma revisão mais realista da receita pode
restabelecer o equilíbrio orçamentário.
Esta hipótese não é desprezível. Muitas vezes
os funcionários fazem estimativas de receita “a menor” para se garantir. A
censura por não alcançar a receita estimada é sempre muito mais grave do que
por excedê-la. Sobretudo a imprensa, raramente critica estimativas
conservadoras.
Ajuste(rightsizing)
não é o mesmo que redução(downsizing)
A redução generalizada de despesas
(downsizing) é uma forma de equilibrar o orçamento num período de crise,
procedendo a cortes generalizados. A idéia é que o mesmo pacote de serviços
continue sendo provido, embora com menos recursos. Em geral nestas situações,
cada departamento ou setor da administração sofre o mesmo percentual de corte.
Supõe-se que a crise é passageira, e que tão logo seja superada, as despesas
voltem ao padrão anterior.
O ajuste (rightsizing) por outro lado,
implica numa análise mais qualitativa da situação. Alcança-se a meta quantitativa da redução, deslocando
recursos entre os programas, de acordo com critérios qualitativos. Assim,
programas considerados prioritários são mantidos nos mesmos níveis,
“financiados” com os recursos liberados pelo corte de programas menos prioritários.
Outra forma de praticar o ajuste é a revisão mais rigorosa da estrutura da
administração, aglutinando órgãos assemelhados, extinguindo outros,
descontinuando alguns tipos de serviços.
O principio básico do “rightsizing” é que a
crise enseja a oportunidade de fazer mudanças de longo prazo, alterações
recomendadas e que se consideram permanentes. Trata-se pois de uma ação mais
estratégica, e não meramente quantitativa.
Embora os dois conceitos sejam diferentes,
eles não são mutuamente excludentes. Muitas vezes faz-se primeiro a redução
indiscriminada (downsizing) para depois, passados alguns meses, proceder ao
ajuste (rightsizing); outras vezes praticam-se os dois simultâneamente.
É aconselhável encarar a crise e a
necessidade de fazer cortes no orçamento como uma oportunidade e não como uma
catástrofe
É sempre aconselhável encarar a crise e a
necessidade de fazer cortes no orçamento, como uma oportunidade e não como uma
catástrofe. Situações excepcionais legitimam medidas excepcionais e que
habitualmente são proteladas. Você pode, então, aproveitar a crise para fazer
aquelas reformas que tornarão sua estrutura mais ágil e mais moderna.
A própria gravidade da situação desarma
grande parte das resistências que normalmente você encontraria, e retira delas
a legitimidade que porventura tenham conseguido adquirir.
Diante de crises as
pessoas aceitam que os governantes sejam mais agressivos, que se antecipem ao
seu agravamento, que tomem decisões mais duras e até mais antipáticas. Neste
sentido, a crise funciona como um escudo para proteger o governante, pelo menos
em parte, dos inevitáveis desgastes políticos de suas decisões.
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