Por Francisco Ferraz
As
denúncias e acusações de ilegalidades e corrupção, que com tanta frequência são
divulgadas pelos veículos de comunicação, trouxeram novamente para o primeiro
plano a temática do escândalo político.
Mais uma vez são gravações, documentos,
declarações e fotos os elementosque determinam o grau de gravidade dos fatos e,
se eles possuem combustível suficiente, para criar um escândalo político.
Sem elementos factuais que ensejem uma forte
desconfiança sobre a culpabilidade dos acusados, dificilmente um escândalo
político toma corpo. É esta desconfiança que atrai a curiosidade dos
leitores/expectadores e o interesse dos veículos de comunicação.
A política então, como é praticada pelos
políticos e relatada pelos jornais, revistas e TV, adotou as características de
um grande espetáculo, no qual o escândalo tornou-se o seu programa de maior
atração.
Dentre os desastres que podem atingir um
homem público, o escândalo é um dos acontecimentos mais temidos, pelos seus
efeitos letais para a carreira
política. Nada apavora mais um político
do que ver-se subitamente às voltas com um escândalo. Sim, subitamente, pois é normalmente dessa
forma que o escândalo político faz a sua aparição.
O escândalo atinge diretamente a sua
reputação e imagem e se constitui numa ameaça muito real de destruição de
ambos.
Escândalo político, entretanto tornou-se um
conceito próprio do mundo da política. Assim, nem tudo que é escandaloso
classifica-se como escândalo político.
Escândalo não é o mesmo que denúncia; também
não se aplica o conceito a fatos negativos mas que são considerados pelo
eleitor como de pouca relevância; ou a fatos que são percebidos como
escandalosos por um segmento limitado de pessoas; ou ainda que não demandem uma
ação corretiva ou punitiva da parte de órgãos políticos ou do judiciário; ou
enfim que não ganhem uma expressiva exposição pública pela mídia.
Escândalo político, neste contexto, é a
revelação de atos, fatos ou declarações comprometedores, apoiados em indícios
e/ou elementos de prova parciais, configurando uma forte suspeita de
ilegalidade ou imoralidade que, pelas declarações dos adversários e pelo tipo
de cobertura da mídia, criam uma imediata presunção de culpabilidade.
Como na política, a percepção é mais
importante que a realidade, os indivíduos tendem a julgar e fazer suas escolhas
pelo que percebem. Daí a conhecida expressão que é uma lei para os políticos:
seja, mas também pareça.
A reputação de um político, portanto,
constrói-se, em grande medida sobre aparências, embora, se estas aparências não
estiverem lastreadas numa razoável base de veracidade, elas tendem a ser, mais
cedo ou mais tarde, desmascaradas.
Por isso, o significado da frase citada
precisa ser completado com a outra
frase: pareça, mas também seja.
Desta forma o escândalo, tornado pauta
obrigatória da mídia, em razão do interesse garantido do leitor/expectador,
leva os jornalistas a se desdobrarem na busca de mais elementos sobre as
acusações, em torno da pista que foi deixada pela denúncia inicial, e a
veiculá-los com destaque.
Surge assim, em toda a sua dimensão o
escândalo, e com ele o estigma que se associa à imagem e reputação do homem
público, e pelo qual passará a ser identificado.
Por essas razões, o escândalo é tão temido.
A reputação é importante lembrar, pertence ao
mundo das percepções e não da realidade. Por isso ela pertence aos outros e não
ao político e, por isso ele pode perdê-la.
Não há como sair de um escândalo ganhando, ou
mesmo incólume, depois que a mídia decide dar-lhe cobertura privilegiada, e os
adversários – externos e internos - dele se aproveitam por óbvias razões políticas.
O objetivo dos
políticos ao lidar com o escândalo, não é portanto necessariamente vencê-lo, e
sim sobreviver a ele nas melhores condições possíveis, dentro das
circunstâncias.
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