Era uma vez uma semente de manifestação
popular, que foi plantada contra um reajuste de R$ 0,20, relativo ao transporte
público urbano em São Paulo. O tempo foi se passando, e o tímido gérmen começou
a brotar em outros quintais. Em pouco tempo, sementes de todas as naturezas germinaram
manifestações Brasil a fora, resultando em uma imensa árvore de reivindicações.
Ela ganhou proporções imensuráveis, de forma que todos os brasileiros decidiram
subir o estrondoso vegetal. Ao chegar às nuvens, eis que povo tupiniquim
acordou o gigante e o trouxe como guardião, para pôr fim às inúmeras mazelas existentes
aqui, em solo verde-amarelo.
Ao descer, o gigante, que é
pop, não poupou ninguém. Nem mesmo a iniciativa privada, que inocentemente
achava estar imune, diante da perseguição contra as máquinas públicas,
conseguiu escapar da fúria do gigante. Os comerciários da Região Metropolitana
de Belém foram às ruas, e deixaram as demais categorias boquiabertas. Um
confronto que durante tantos anos parecia ser impossível e desigual, à lá Davi
e Golias, não deu a menor chance de reação aos patrões. Tiveram de se render ao
gigante, que não adormeceu – e nem dá sinais de bocejos -, ou seja, os demais
empresários que se cuidem. De fato, o povo do varejo estava atacado.
E não se espante se na
próxima semana o povo do atacado resolver seguir o varejo. E mais, se as lojas
de departamentos, os motoristas, policiais, servidores públicos, enfim, se a
cidade parar. Esta semana, ouvi dizer que as redações de jornais estavam em
polvorosas: não sabiam qual protesto cobrir, já que o volume de manifestações supera
o quadro funcional dos veículos. Na última quinta-feira, 4, por exemplo, estavam de braços cruzados os
empregados da Jucepa, da Cosanpa, os comerciários dos supermercados, os
médicos, os professores de Barcarena e até os flanelinhas. Onde isso vai parar?
Ah, isso ninguém sabe. O que se sabe é que um grupo quer libertar Belém, e, pra
isso, conta com a força de um gigante. Um gigante com insônia.
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