Qualquer estudante de primeiro semestre de economia aprende ainda nas primeiras aulas do curso que a etimologia da palavra economia deriva do grego oikonomia, na qual oiko significa casa, propriedade, riqueza ou fortuna, e nomos significa regra, lei, organização ou até mesmo gestão. Na Grécia Antiga a economia era o ramo do conhecimento que cuidava da administração da comunidade doméstica, indo desde aspectos micro relacionado ao oikos até aspectos macro relacionados à Pólis (cidade, campo ou território). Convém ressaltar, entretanto, em que pese alguns poucos autores insistirem que Xenofontes (430-355 a.C.) e Aristóteles (384-322 a.C.) teriam sido os autores seminais desta ciência, que na Grécia Antiga não havia um estudo sistemático que observasse princípios autônomos neste ramo do conhecimento. A economia era apenas um campo do conhecimento integrante da “Ciência-mãe”, a Filosofia, estando integrada a um arranjo social e político mais amplo da qual não podia ser dissociada.
Pesquisando ainda mais detalhadamente a respeito da etimologia da palavra economista, descobri que ela deriva do latim oeconomus e esta do grego oikonomo, significando literalmente servo, mordomo ou dispensador, podendo ser entendida no sentido mais usual da época como o administrador de uma grande propriedade ou de uma instituição pública ou particular. Ou seja, em seus primórdios, na Grécia Antiga, o economista era claramente um servidor público, entendido este como aquele que serve aos outros ou a coisa pública. Esta visão mais de mil anos depois pode ainda ser encontrada em São Tomaz de Aquino (1225-1274), um clássico teólogo e filósofo da Idade Média que denominava de economos quem administrava bens, rendas e despesas do lar ou, como ele mais usualmente utilizava, monastérios.
No ano de 1615 um autor mercantilista francês denominado Antoine de Montchrétien (1575-1621) publicou a obra Tratado de Economia Política no qual pela primeira vez a expressão Economia Política aparece. Esta obra é simbólica na medida em que com ela pode-se perceber que a economia passa a figurar para os autores mercantilistas como um campo do conhecimento relacionado à gestão do Estado, inclusa, portanto, no campo de interesse das Ciências Políticas, sobrepujando desta forma as demais visões que denominavam este campo do conhecimento de “Crematística” ou “Catalactica”, palavras derivadas do grego khrema e katallactein que significam respectivamente Ciência da Riqueza e Ciência das Trocas.
O fato é que desde a gestação da Economia, ainda no ventre da Filosofia ou das Ciências Políticas, havia a tentativa de vulgarização deste ramo de conhecimento. Hoje a vulgarização da Economia é uma realidade. Mais do que meio de análise e transformação da sociedade o mainstream econômico vulgar, servido por sofisticadas ferramentas econométricas e computacionais, transformou a modelagem em um fim em si mesmo, deixando muitos dos modelos de servirem como efetivas fontes de orientação para as tomadas de decisões nos âmbitos público e privado. Indo mais além, hoje vivemos nas últimas décadas um processo de aculturamento acadêmico sem precedentes. Em nossas universidades utilizamos manuais importados produzidos para uma dada cultura e sociedade. E ao mesmo tempo em que tentamos nos trópicos transplantar sem mediações teorias ad hoc, estamos deixando de ler autores como Celso Furtado, Florestan Fernandez, Caio Prado Júnior, Sérgio Buarque de Holanda e Gilberto Freire, que certamente nos ajudariam a compreender melhor as características sociais e econômicas de nossa civilização tropical, compreendendo principalmente mais do que desenvolvimento o que é o subdesenvolvimento. Talvez se alguns economistas lessem estes autores certamente seriam mais cautelosos na utilização de termos como nação em desenvolvimento ou emergente para o Brasil. Somos infelizmente um país subdesenvolvido e a Amazônia hoje é a periferia da periferia, um mero almoxarifado.
Mas permita-me deixar esta digressão e voltar ao que interessa neste ato, o economista. Atualmente o economista é muitas vezes visto como apenas como o profissional das crises, da bolsa de valores, do orçamento doméstico familiar ou o que dá explicações quando o preço do tomate sobe no supermercado. No conhecimento comum rasteiro o economista é apenas isto. Infelizmente a sociedade hodierna desconhece o potencial deste profissional.
O que falar do economista? Redigi algumas linhas em um artigo alusivo a comemoração da Semana do Economista no ano de 2010 que foi publicado em um jornal local na minha cidade natal, Belém do Pará. Transcrevo a seguir parte do que escrevi: O economista destaca-se no mundo global e instantâneo contemporâneo por sua formação holística. É ao mesmo tempo técnico e Cientista Social. Domina matemática, estatística e econometria tão bem quanto transita pela história, geografia, filosofia, sociologia e política. Vai da dimensão temporal para a espacial com extrema facilidade. Enxerga o global sem perder o olho do particular, e o particular com uma perspectiva global. Discute e interage com questões gerais tão bem quanto é pragmático na resolução de problemas específicos. Atua no setor privado, público ou terceiro setor. É conhecido por ser o profissional da prosperidade, seja no âmbito micro, quando procura melhorar o desempenho das empresas, ou no âmbito macro, quando procura interferir na economia nacional e mundial com objetivo de acelerar o crescimento econômico sustentado. Entretanto, engana-se quem pensa que o Economista é apenas um profissional da riqueza, do dinheiro. Acima de tudo o Economista é o profissional do bem-estar social. É um interprete da sociedade que se coloca também como importante agente de transformação da própria sociedade. Pensa, desta forma, caminhos e alternativas de desenvolvimento de modo que as condições de vida da sociedade como um todo melhore. É o profissional que busca a prosperidade, mas não perde o foco da pobreza, da miséria e do meio-ambiente. Pelo contrário, busca construir uma sociedade mais justa e igualitária, na qual todos tenham acesso às condições básicas de inserção social. É um profissional que pensa o abstrato sem perder a sensibilidade do concreto. Ou seja, ser Economista não é para qualquer um. É fundamental a existência de uma vocação para o exercício da profissão. É, sem dúvida, uma atividade profissional das mais difíceis.
Dito isto, não poderia fechar este ato sem mencionar a brilhante alusão feita no título de um dos livros do professor Armando Dias Mendes, O Economista e o Ornitorrinco. É isto mesmo, quem já viu um ornitorrinco sabe que se trata de um animal bastante esquisito. Possui pele, pêlos, bico de pato, rabo de castor e patas com membranas. Um relatório publicado pela Revista Nature afirma que se trata de um animal único, que é ao mesmo tempo um réptil, um pássaro e um mamífero. Este é o economista, um profissional volátil que domina diversas ferramentas ao mesmo tempo, mas que ainda precisa aprender a tirar vantagem disto. Viva o ornitorrinco! Quer dizer, viva o economista!
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