terça-feira, 10 de março de 2015

A simplificação do debate e a hora de dizemos basta


Como bom economista heterodoxo, que tem fundamentos nas teorias seminais de Marx, Keynes, Kalecki, Shumpeter e na Escola Estruturalista Latino-Americana, compreendo muito bem o papel da luta de classes na sociedade capitalista. Da mesma forma, entendo como o capital acaba mercantilizando todas as relações sociais na ânsia de ampliar os seus horizontes de valorização, inclusive as instituições políticas da sociedade.
Desta forma, tentar reduzir o atual momento da sociedade brasileira a uma mera disputa entre burguesia de “panela cheia” e trabalhadores “de pratos vazios” é um exercício de má fé e uma tentativa de tirar o foco da principal pauta posta hoje na sociedade brasileira: a corrupção.
  As nossas instituições políticas estão corrompidas. Os nossos partidos contaminados. O “jogo político” de “cartas marcadas”. Neste contexto, o financiamento de campanhas políticas e o processo de cooptação praticado nos exercícios legislativos  levam muitas vezes ao processo de usufruto privado dos recursos públicos por meio da corrupção.
Os nossos valores como sociedade estão deturpados. Precisamos recuperar a boa política, que não olhe para projetos pessoais ou de grupos, mas que faça do processo democrático um meio de construção de uma sociedade mais justa, mais digna, mais honrosa, com valores e princípios corretos. Assim, o debate atual não é entre PT ou PSDB. Entre burguesia e proletariado. Mas entre os bons e os maus valores. O nosso debate é sobre a corrupção. Não podemos mais tolerar escândalos após escândalos e seguir as nossas vidas como se nada tivesse acontecendo, ou como se este debate não tivesse nada a ver conosco. Somos afetados diretamente. Somos as principais vítimas do processo político viciado.
Precisamos realmente reconstruir os nossos fundamentos políticos. E estes fundamentos somente serão reconstruídos quando aprendermos a votar corretamente como sociedade. As manifestações populares são justas e necessárias. Mas de nada adiantará se nas próximas eleições reconduzirmos os nossos “algozes”, os “algozes” dos valores éticos e morais de nossa sociedade para novos mandatos. Está na hora de dizermos basta!  

Um comentário:

  1. Sério? E qual é o papel da luta de classes na sociedade brasileira?
    Não li um artigo, editorial, ou coluna de opinião restringindo a "disputa entre burguesia de “panela cheia” e trabalhadores 'de pratos vazios'".
    As "nossas instituições políticas estão corrompidas"? Meu caro, o problem é privado. A corrupção é eminentemente privada e está arraigada na forma de sociabilidade desse país.
    "Princípios corretos"? Quais seriam? Valores cristãos, como aqueles apregoados pelos "Gladiadores do Altar"?
    Votar corretamente é a opinião mais sensu-comum que se pode ouvir. "Algozes dos valores éticos morais" está mais para discurso do Estado de Exceção brasileiro de 64.
    Você não falará das propostas existentes de reforma política? Do fim do financiamento privado de campanha?
    Você não falará de um congresso que não é apenas corrupto, mas extremamente conservador? Qual sua opinião em relação à votação da CCJ aprovando a redução da maioridade penal? E sobre Eduardo Cunha barrar qualquer discussão sobre criminalização da homofobia, abordo, drogas etc.?
    Você não falará da lista do HSBC? Sobre a operação Zelotes da Polícia Federal?
    O tema é bem mais complexo do que suas palavras dão a entender.

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