Pr. Isaltino Gomes
Coelho Filho
Dia 4, Meacir e eu completamos 41
anos de casados. Sem melosidade: deu certo. Fomos almoçar fora e comentei com
uma pessoa: “Vou levá-la para comer cachorro quente na barraca do Tião”. Tal
barraca é fictícia. Nós a criamos. Na nossa ficção, dizemos que os urubus
pousam na cumieira da barraca, mas de vez em quando algum deles desmaia, só com
o cheiro do produto tiãozeiro. Nem eles aguentam. Imaginem, dois branquelos
comendo o sanduba de salsicha, em pé, ao sol de Macapá, sol que frita o rio
Amazonas. Tentei casar o Tião com uma amiga, dizendo-o um Adônis: só tem dois
dentes, mau hálito, nariz escorrendo e pé cascorento, mas a amiga não quis.
A pessoa perguntou se era legal levar
a esposa ao Tião. Meacir citou Provérbios 15.17: “É melhor comer verduras na
companhia de quem a gente ama do que comer a melhor carne onde existe ódio”
(LH). A felicidade conjugal não depende de coisas, mas das pessoas. Não é o
volume de bens ou o lugar onde se vive. É o relacionamento. É a visão. Nós
casamos para dar certo. Com a graça de Deus, fizemos dar certo. Aliás, pregarei
sobre este texto de Provérbios, domingo que vem: “Rúcula ou picanha?”.
Há quem se casa pensando: “Se não der
certo, a gente separa”. Condenou o casamento ao fracasso. Já deu errado. Outros
casam e querem seus direitos, sem pensar em deveres. A outra parte deve fazê-la
feliz. Não pensa que é sua responsabilidade fazer a outra parte feliz. Nós
casamos para tornar nosso cônjuge feliz. Outros mais pedem amor. Amor não se
pede. Ganha-se. E, curioso, quem quer receber amor, deve dá-lo. Amor é assim:
quem dá recebe. Outros querem um clone, não aceitando alguém diferente. O povo
diz que os “opostos se atraem”. Bobagem! Opostos sadios se repelem. O certo é:
opostos se complementam. As diferenças devem se ajustar. É o sentido de “uma
ajudadora que fosse como a sua outra metade” (Gn 2.20, LH). Eu sou idealista.
Meacir é pragmática. Ela me finca os pés no chão. Eu a ajudo a ser sonhadora.
Clones são um problema, não solução. A chave é adaptabilidade.
Outros casam querendo alguém que se
dobre à sua vontade, mas nunca cede. Veem suas razões, não as razões da outra
parte. Quando um cônjuge se presume a quarta pessoa da Trindade, é óbvio que as
coisas darão erradas. A postura correta não é a de mando; é a de serviço. Jesus
se mostrou assim: “Mas entre vocês eu sou como aquele que serve” (Lc 22.27).
Porque se mostrou como quem ama a ponto de morrer pelos seus seguidores (Jo
15.13), milhões de seguidores morreriam hoje por ele, realizados, por terem
sido achados dignos disso. Ele conquistou pelo amor. Truculência não consegue
amor. Amor consegue.
Para ter um casamento ajustado basta
doar-se, não cobrar e adaptar-se àquela pessoa. Cobranças matam um casamento.
Doar-se o vivifica.
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