É
impressionante como determinadas correntes político-ideológicas, em especial as
de linhagem marxista, apesar de terem ojeriza a tudo o que tem caráter
religioso (afinal a religião é o “ópio do povo”), assumem paradoxalmente características
de seitas com manifestações dogmáticas, fanáticas e, em muitos momentos, até
mesmo irracionais. Cultuam homens e ideais revolucionários; e, a partir de sua ortodoxia
dogmática, e por meio do incisivo patrulhamento ideológico, condenam a “fogueira
da inquisição” (“cancelamento”) qualquer herético que ouse se posicionar contra
os seus credos, profetas, partidos, ideais ou opiniões.
Os fundadores
desta “religião laica” são alçados ao patamar de semideuses ou “messias”. Os
seus escritos adquirem o caráter de documentos “infalíveis”, “inerrantes”, “imutáveis”
e “proféticos”. Para ser aceito em seu meio social é imprescindível ler e
conhecer o seu cânone. Toda a “verdade absoluta” emana dos escritos destes “iluminados”,
que merecem serem lidos e relidos num exercício exegético interminável com
objetivo de se encontrar “mensagens proféticas” deixadas, muitas das quais nas “entrelinhas”.
Neste exercício religioso, como quem se dirige para o culto, carregam os seus “evangelhos”
nos braços, em especial nos ambientes universitários e intelectuais,
principalmente porque portar esses documentos é a chave para a aceitação social;
é preciso ser cult. E se você quer mais do que aceitação, pretende lograr
mobilidade social, é fundamental que você recite com frequência uma frase de
efeito de seu intelectual preferido. A citação destes “versículos” causa um “êxtase
espiritual” na “membresia” (militância) e se torna a chave para a aceitação do “líder
congregacional” de plantão.
Nesta “religião”
alçam a posição de “deuses iluminados” os seus profetas seminais. É a partir destes
emergem a sua religiosidade, as suas crenças, a sua fé e as suas diversas dissidências
por divergências “doutrinárias”: marxistas, marxianos, progressistas,
leninistas, stalinistas, trotskistas, maoístas, gramiscitas, freireanos e por
aí vai.
Sempre que
possível aparece uma nova congregação nesta plêiade religiosa motivada por “divergências
doutrinárias”, mas que mantém um sentido orgânico pela crença na sua “salvação”.
Nesta crença, o homem adquire o status de redentor do próprio homem, senhor da sua
história, uma história teleológica. Este homem elevado ao patamar de deus, por
meio da luta de classes, da revolução e da implantação do comunismo irá construir
o “paraíso na terra”; mesmo que para isso seja necessário debelar os direitos
humanos fundamentais: liberdade, vida e propriedade (sic.)
No curso
deste processo, e no culto de seus ideólogos, os fins justificam os meios, o
sacrifício humano é tolerado, a vida se torna relativa, o indivíduo é
aniquilado em sua existência, a família destruída, e o Estado passa a ser idolatrado
como instrumento de remissão dos “pecados sociais”. No mantra da busca pela
igualdade social, todo poder ao Estado, e nenhuma autonomia ao indivíduo. Este
Estado, instrumento da “revolução”, passa ter poder para deliberar sobre tudo,
desde o que você pode comprar, quantos filhos pode ter (e o que deve ensinar
aos mesmos); e até se tem ou não o direito de frequentar o templo de sua
religião, o que pode ser ministrado nos púlpitos e em que você pode crer ou não.
A pesar de
negarem o seu status religioso, muitos movimentos político-ideológicos acabam
se tornando uma verdadeira religião. E nesta religião secular, como simulacro,
levantam os seus “profetas”, “missionários”, “evangelistas”, “pastores”, “diáconos”,
“presbíteros”, “obreiros”, todos a serviço de seu “ministério revolucionário”. E,
em seus seminários, formam diuturnamente uma nova geração de intelectuais
orgânicos e líderes revolucionários (mesmo que estes não saibam, agindo como
inocentes úteis da causa), responsáveis por preparar o terreno para a
revolução.
O que vou
dizer não é nenhuma novidade. Mas me parece que estas seitas percebem isto mais
do que os cristãos. O maior adversário do marxismo não é o liberalismo, o
capitalismo ou o conservadorismo como alguns pensam, mas o cristianismo. É, por
isso, que o cristianismo hoje se encontra na berlinda. É o principal adversário
a ser debelado pelo movimento revolucionário.
Cabe uma
única pergunta. E você como Ekklesia de
Cristo, de que forma está se posicionando?
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