Pr.
Isaltino Gomes Coelho Filho
Certo
dia, quando ainda morava em Campinas, após o almoço, fiz chá de hortelã para
mim e Meacir. Como tomava, na época, chá de quebra-pedra, deixei um canecão com
água fervendo uma porção desta erva, e levei-lhe o chá no quarto. Por lá fiquei
até que, meia hora depois, reclamei do cheiro de erva queimada. Próximo a nós
havia alguns fumadores de uma erva que, segundo os intelectuais, faz bem, a cannabis sativa, a conhecida
“maconha” (gozado, o cigarro faz mal e a maconha faz bem!). Comentei com
Meacir: “Hoje eles estão abusando! Esta é a pior que já queimaram! Essa fede!”.
Cinco minutos se passam e o cheiro piora. Até que ela disse: “Tem panela
queimando!”. Dei um salto: “Meu Deus!”. Fui do quarto à cozinha num pé só. A
água secara e a erva incandescia e carbonizava no canecão. Que anta! Culpei a cannabis alheia e era a minha phylanthus niruri, a
quebra-pedra. Quase incendiei o apartamento.
Engraçado?
Você já deve ter feito isto, fora do fogão: errou e culpou os outros. É a
síndrome de Adão: “A mulher que tu me deste”. Eva e Deus erraram e ele,
Adão, era vítima. “A serpente me
enganou”, desculpou-se Eva. Cada um quis livrar sua pele. A serpente, por não
ter dedo, não o apontou para ninguém. Talvez por ser astuta. Era melhor calar
naquela hora!
Há
gente assim. Estende o dedo contra Deus (“Por que Deus permite?”) e contra os
outros (“Eles é que estão errados!”). Culpa o cheiro da erva dos outros. Mas é
a sua que está cheirando mal.
Há
quem sofra de vitimismo. É sempre vítima. Erra com os outros e culpa a reação
deles. Mas muitos de nós somos vítimas de nossos erros. Uma pessoa fofoqueira
vê as pessoas se distanciarem. Reclama delas. Alguém, explorador e desonesto
com colegas de trabalho, angaria má reputação. Queixa-se da atitude dos outros.
Um marido grosseiro ou uma mulher queixosa criam um ambiente insuportável, mas
acham que o mau cheiro é da erva alheia.
Há
acasos e acidentes na vida. Mas muito do que nos acontece em relacionamentos,
com pessoas e com Deus, é produto de nossas ações. O profeta Obadias declarou:
“O teu feito tornará sobre a tua cabeça” (v. 15). Muitas atitudes nossas são
como bumerangue: voltam sobre nós. Uma pessoa se afasta de Deus, dá-se mal, e
depois reclama que Deus a abandonou. Ela abandonou a Deus! Recusou seus
cuidados! Alguém não é leal com outros, que não o julgam confiável, e depois se
queixa! Não é a erva dos outros que está queimando! É a delas!
Meu
caso terminou bem. Abrimos janelas, ligamos ventiladores, desodorizamos a casa,
e fiz outro chá. O melhor: Meacir ficou com peninha do marido, tão atrapalhado,
tadinho! Mas deixar nossa erva queimar nem sempre termina bem. Culpar os outros
não resolve.
Está
cheirando mal? Pode ser a sua erva!
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