terça-feira, 15 de abril de 2014

Comunicação política e comunicação de governo numa sociedade de massas


Por Juliano Corbellini – Publicado originalmente em Política para Políticos em 11/03/2014


Não é novidade a consideração de que a política, no mundo contemporâneo, passou por uma metamorfose no sentido de sua “midiatização”. O sentido da palavra “midiatização”, entretanto, na maioria das vezes não é compreendido com a abrangência devida.
O processo de “midiatização” significa muito mais do que a ocupação de espaços de propaganda nos veículos de comunicação. Antes disso, significa “mediar” (mídia = “media” (ingl.); midiatização= “mediatizzazione” (it.)), ou seja, “passar do (im)ediato ao “mediato”, do contato direto a representação substitutiva do evento político”.
Numa sociedade de massas, o processo de comunicação através da mídia de massa “media” o contato dos cidadãos com eventos com os quais eles não têm contato direto e imediato. Assim, pode-se dizer que um governo “acontece” em dois planos: o plano “imediato” naquele em que os cidadãos vêem a obra e percebem diretamente os seus benefícios; e o plano “mediato”, que é a “representação substitutiva” da obra ou do evento político.
O segundo plano dificilmente se sustenta artificialmente sem o primeiro. Mas o primeiro plano se dissipa e se dissolve sem o segundo. Os governantes, que vivem no mundo “imediato”, lutam sempre contra o risco de uma visão distorcida sobre o seu próprio governo. Eles vêem o governo que “realmente acontece”, mas não necessariamente o governo que é percebido de maneira mediatizada pelos cidadãos.
O processo de “mediatização” de um governo, através do qual ele acontece nesse segundo plano que é decisivo para o seu acumulo de capital político, significa essencialmente vencer a batalha pela conquista da visibilidade. A frase também parece óbvia, mas talvez não o seja tanto em seu significado, e nas dificuldades que ela implica. A conquista da “visibilidade política” não se reduz a uma visibilidade de tipo “expositiva”.
Assim o fosse, bastaria novamente empilhar obras em anuncios pagos nos meios de comunicação. A conquista da “visibilidade política” para um governo (assim como em uma campanha) significa a vitória numa batalha em que se precisa “explicar eventos políticos, justificar ações políticas, afirmar uma identidade política, pautar e estruturar o debate político”.
Trata-se de uma visibilidade representativa de determinados valores e conteúdos. Por exemplo, quando eu digo “abri um posto de saúde”, eu estou “expondo” um evento político. Quando eu digo “abri um posto de saúde porque minha prioridade é a agenda social”, estou explicando, justificando, firmando uma identidade, pautando os meus adversários para um debate que me favorece.
Obras e realizações administrativas legitimam e são a base necessária de um processo de comunicação de governo, mas não são entretanto condição suficiente para vencer a batalha da visibilidade.
Um segundo aspecto da batalha pela visibilidade é o que se chama “geometria da visibilidade”. O êxito da visibilidade de um governo, ou seja, o processo de legitimação de uma informação que é “mediata”, não depende só da competência publicitária e estratégica de suas ações de mídia.
O governo não é o único “agente” nesse processo. Existem outros dois agentes fundamentais para dar credibilidade a essa informação: a imprensa, que também “media” o governo ao reproduzir noticias e emitir opiniões sobre o governo, e a própria comunidade, que ao “falar” (bem ou mal) sobre o governo também age como “formadora de opinião” (aliás, as vertentes mais modernas da sociologia política não falam só em “um grupo” de formadores de opinião, mas em “grupos” formadores de opinião existentes em cada estrato social).
Esses dois segmentos sociais possuem uma importância estratégica primordial, na medida em que a “informação de governo” possui, a princípio, uma baixa credibilidade, pela razão evidentemente interessada que a motiva. Assim, a batalha pela visibilidade, pela “percepção mediatizada” do governo, deve saber operar o tripé mídia publicitária- imprensa- comunidade. Seu êxito, assim, depende de uma operação sinérgica nessas frentes.
Os desafios da comunicação de governo, dessa maneira, guardam algumas similitudes com os desafios de comunicação de campanha: ele precisa ter foco e ser repetitivo para ganhar visibilidade e fixar conteúdos, e precisa ter uma equação estratégia que faça com que o seu conjunto de obras e realizações convirjam para afirmar uma identidade sua, formando uma opinião política na comunidade que preserva e ampliar o seu capital política.
Todos os princípios estratégicos do “modo de campanha” (manter o foco, dominar a agenda, fazer do adversário parte de sua estratégia e não o contrário, etc.) continuam, assim, valendo no “modo de governo”.
As distinções, porém, são também fundamentais. A população aceita e até exige que o governo mostre realizações, mas, ao contrário do momento da campanha, está em melhores condições para “flagrar” a propaganda enganosa ou fictícia.
No momento da campanha, o “diálogo” fundamental que se estabelece é entre as campanhas adversárias (ou seja, entre atores todos de baixa credibilidade).
No momento de governo, o “diálogo” que se estabelece em regra é governo-imprensa-comunidade, um diálogo onde o governo tem menos credibilidade, mas em compensação pode jogar praticamente sozinho na administração dos seus recursos. O seu desafio, assim, é jogar o máximo de virtude nessa administração de recursos.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Reflexões sobre a atividade mineral no Pará (Parte IV)

       A principal preocupação com o ciclo mineral é que ele é finito. Uma hora vai acabar. Isto significa que nós paraenses e amazônidas ainda não aprendemos com os erros da nossa história. Há cem anos foi o ocaso da borracha, que após gerar a belle époque deixou como legado uma economia subdesenvolvida e deprimida, sem alternativas econômicas e com elevada desigualdade social, ao contrário do café em São Paulo que foi o elemento indutor do processo de industrialização do país. Cem anos após a história tragicamente se repete e atividade mineral no estado não está conseguindo induzir um efetivo processo endógeno de desenvolvimento. A nossa esperança é que este plano que está sendo lançado pelo Governo do Estado enfrente decisivamente estes desafios postos em nossa agenda como sociedade.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Reflexões sobre a atividade mineral no Pará (Parte III)

     A mineração é uma atividade dita capital intensiva. Ou seja, o número de empregos diretos e indiretos gerados, dado o montante de investimento, é diminuto. Ademais, são empregos qualificados, que boa parte da nossa população não está qualificada para assumir. Ao lado disto observa-se a ausência de condicionantes sociais mais bem pactuados, pouco retorno financeiro para o estado e municípios para promoverem políticas sociais, estando entre elas a educação com a formação de mão de obra qualificada, falta de verticalização da produção e ausência de mecanismos indutores da diversificação da base econômica do estado. Este quadro é alarmante, pois apesar da mineração responder por mais de 30% do PIB estadual e 80% das exportações, responde proporcionalmente por uma parcela diminuta de empregos gerados. Este é um dos fatores que condicionam grande parte da nossa população a continuarem numa situação de exclusão e pobreza, a margem, portanto, da sociedade.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Reflexões sobre a atividade mineral no Pará (Parte II)

        A agenda mineral no Pará é complexa e desafiadora. Precisamos começar repactuando os condicionantes socioambientais dos empreendimentos. Neste ponto, a presença do nível estadual no processo de licenciamento dos projetos é importante. Ao lado disto precisamos rever a isenção de cobrança de ICMS nas exportações minerais. Trata-se de um bem da União, portanto da sociedade, e as empresas não podem deixar de contribuir com a capacidade de promoção de políticas públicas mitigatórias sobre as externalidade negativas de seus empreendimentos. Terceiro, considero fundamental nesta discussão a constituição de um Fundo Regional de Exaustão, para que após o ciclo mineral, haja mecanismos financeiros em condições de manter o dinamismo econômico da região através do incentivo à diversificação da base econômica. Quarto, os empreendimentos mineradores não podem atuar como plataformas de exploração/exportação destituídas de hinterlândia. Neste ponto, estes empreendimentos precisam funcionar como efetivos elementos indutores do desenvolvimento regional e estadual. Neste ponto fica uma observação que considero fundamental. Qualquer plano sério para o setor mineral precisa ir além da mineração, estabelecendo, é bom repisar, mecanismos de verticalização da produção e indução da diversificação da base econômica do estado. Hoje o Pará é excessivamente dependente do setor mineral. E isto é um problema que precisa ser encarado.  

terça-feira, 8 de abril de 2014

Reflexões sobre a atividade mineral no Pará (Parte I)

       A atividade mineral da forma como atualmente alicerçada no estado do Pará ainda é um enclave. Gera poucos efeitos multiplicadores para o restante da economia regional, não incentiva a verticalização da produção e a diversificação da base econômica do estado, funciona como elemento indutor de migração de mão de obra com baixa empregabilidade para o seu entorno, além de não contribui para a capacidade de promoção de políticas públicas mitigatórias por deixar poucos impostos para o estado e municípios, principalmente em função da Lei Kandir. Se isso não bastasse, em paralelo a implantação e operação dos grandes projetos minerais são notórias: a migração desordenada, o inchaço dos núcleos urbanos, o crescimento de favelas, o desenvolvimento da economia informal, o aumento da taxa de criminalidade e a sobrecarga dos serviços públicos.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

O COFECON e a Amazônia


Verdade seja dita. Uma simples visita ao site oficial do Conselho Federal de Economia (COFECON) demonstra que a Região Amazônica nunca esteve tão prestigiada pela entidade. Isto é resultado de intenso trabalho dos Conselhos Regionais de Economia da Amazônia, dos Conselheiros Federais da Região e do Plenário do COFECON que está dando a devida atenção para a região. Parabéns ao Presidente Paulo Dantas pela forma como está conduzindo a entidade.

Sitio eletrônico do COFECON: http://www.cofecon.org.br/

Mais importante que começar bem é terminar bem


Obs.: Publicado por Francisco Ferraz em 27/02/2014 no sitio eletrônico de Política para Políticos

Na vida como na política, começar bem é fácil, difícil é terminar bem.
Neste aspecto, o senso de “timing” é uma das maiores provas de sabedoria política. É você quem deve decidir quando e como terminar, com todos os riscos envolvidos numa decisão, que sempre estará cercada de dúvidas e incertezas.
Se for o contrário, se a iniciativa de terminar escapar ao seu controle, você perdeu o melhor momento, provavelmente tentou “segurar” a posição por mais tempo do que era possível, passando assim um atestado de falta de sensibilidade, oportunidade e lucidez.
Começar bem é fácil. Você ainda não é conhecido, as pessoas ficam curiosas, querem conhecê-lo, e você pode apresentar-se a elas sob a sua melhor luz. Além disso, você é a novidade e, como toda novidade,  é notícia, é atração e corteja o sentimento dos outros de transformar o que é desconhecido em familiar.
Mais ainda, ao começar você não é julgado contra expectativas, e comparado com elas. Não há expectativas fixadas que você precisa corresponder. É você mesmo quem vai, aos poucos, criando e definindo expectativas, o que deverá levar em conta a sua capacidade de realização.
Por fim, quem começa estimula nos outros uma disposição para ajudá-lo. As pessoas sentem satisfação em “ensinar”, “orientar”, “advertir e aconselhar” o novato.
Como se vê, começar, a menos que o indivíduo se revele um completo desastrado, é relativamente simples, sem maiores riscos, e conta com poderosos sentimentos favoráveis nos outros para ajudar.
Na política, entretanto, a advertência recai sobre o ato de terminar e não ao de começar: “Assim sendo, seja cuidadoso com a forma como você termina as coisas, e dedique muito mais atenção a uma saída exitosa do que a uma entrada sob aplausos. O que importa não é ser aplaudido quando se entra – pois isso é comum – e sim o de fazer com que sua falta seja sentida quando você sai” (Gracián).
Muito raros são aqueles cuja falta é sentida depois que saem.
A sorte quase nunca companha quem sai, até a porta de saída.
Ela é cortês para com os que chegam e costuma ser rude com os que estão de saída...

Lançamento do Plano de Mineração do Estado do Pará 2014-2030


Acontecerá no próximo dia 14 de abril às 19h00, no Espaço São José Liberto (Praça Amazonas), o lançamento do Plano de Mineração do Estado do Pará 2014-2030. Trata-se de um importante avanço institucional realizado pelo Governo do Estado do Pará, por meio da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico e Incentivo à Produção e da Secretaria de Estado de Indústria, Comércio e Mineração.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

A política do Século XXI e a campanha eleitoral


Por Francisco Ferraz

 

Obs.: Publicado originalmente em 24/02/2014 no sitio eletrônico de Política para Políticos

 
O que se costuma chamar de politica do século XXI teve início no século XX. Ela resulta das consequências políticas da revolução nos recursos e veículos de comunicação social ocorrida no século passado.
A voz humana, o texto escrito e a imagem - os recursos fundamentais da comunicação entre as pessoas, desde o início dos tempos - foram sucessivamente transformados pelas inovações tecnológicas, acarretando mudanças na própria estrutura da sociedade moderna.
A modernização dos equipamentos e veículos de comunicação seguiu objetivos bem definidos: a velocidade, a miniaturização, a portabilidade, a multifuncionalidade, a instantaneidade, a redução no custo das operações e dos equipamentos, e a capacidade de armazenamento e processamento.
Essas mudanças, embora revolucionárias, são entretanto recentes e em constante e acelerado aperfeiçoamento e renovação. Não podemos nos esquecer que, no Brasil, a TV surgiu na década de 50, o computador pessoal nos anos 80 e o telefone celular na década de 1990.
O telefone, a televisão e o computador são os três pilares tecnológicos que provocaram essa revolução na comunicação e empurraram a política, e os demais aspectos da vida social, para uma nova era.
O modelo tradicional de fazer campanhas eleitorais, por exemplo, já foi completamente superado pelas nova tecnologia de campanha. A opinião e o palpite foram substituídas pelo conhecimento produzido pelas pesquisas; o conhecimento político, apoiado numa “alegada experiência” de passadas eleições, foi substituído pela contratação de profissionais especializados em ciência política e marketing; a assessoria partidária e familiar do candidato, pelo núcleo constituído pela assessoria em estratégia, pesquisa e publicidade, associado a quadros partidários e executivos de confiança do candidato.
Essa revolução nas comunicações produziu também um novo cidadão, com novas exigências e expectativas ao qual deve corresponder um novo político.
A linguagem que esse cidadão melhor compreende é a linguagem da TV. O período de tempo a que a ela estamos sujeitos, e a freqüência com que a ela nos expomos, impôs essa nova linguagem a todos nós.
Nossos “receptores” mentais passaram a exigir uma linguagem direta, clara, visual, concisa e conclusiva, como é a da TV.
Adquirir informações confiáveis, conceber a estratégia mais adequada e produzir a comunicação do candidato que seja compreendida, retida na memória e aceita pelo eleitor, tornou-se um desafio intelectual de grandes proporções. De seu adequado equacionamento vão depender as próprias condições de competitividade de uma candidatura.
Equivale ao enigma da Esfinge proposto a Édipo: “Decifra-me ou te devoro”.

Lançamento do Prêmio Celso Furtado de Desenvolvimento Regional 2014


Ocorrerá no próximo dia 10 de abril no auditório do Banco da Amazônia o lançamento do Prêmio Celso Furtado de Desenvolvimento Regional 2014, que neste ano homenageará Armando Dias Mendes, um grande intelectual que dedicou a sua vida a estudar a Amazônia. O evento está programado para iniciar às 9h.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Nota do Cofecon - Zona Franca de Manaus


O plenário do Conselho Federal de Economia (COFECON) manifesta-se favoravelmente à prorrogação dos incentivos federais concedidos ao Polo Industrial de Manaus (PIM) / Zona Franca de Manaus para até o ano de 2073, conforme a PEC 506/10 tramitando no Congresso Nacional.
O PIM tem representado uma efetiva oportunidade de desenvolvimento econômico e social, não somente para o Estado do Amazonas, mas para todo o Brasil. São mais de 124 mil empregos diretos gerados; investimentos da ordem de US$ 31,2 bilhões nos últimos três anos; e, por meio da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), uma significativa participação no processo de desenvolvimento dos estados da Amazônia Ocidental, sua área de atuação.
Ademais, tem concorrido de forma extraordinária para a preservação e conservação do bioma amazônico ao inibir, indiretamente, atividades agropecuárias que implicam no desmatamento. A continuidade do PIM/ZFM resultará na manutenção da preservação de sua floresta, hoje de 97% no estado do Amazonas, o que é do interesse de toda a Nação Brasileira.
As atividades do PIM/ZFM não estão atreladas à exploração de madeira, pastos ou mesmo agricultura, mas a um parque Fabril que gera 124 mil empregos diretos e, considerando a logística em território nacional (como transporte de cabotagem, caminhões, balsas e aviões; armazenagem e desembaraços) e ainda serviços e comércio, o número de empregos indiretos ultrapassa os 400 mil. Além disso, contribui substancialmente para arrecadação tributária (cerca de 50 bilhões de dólares nos últimos 10 anos).
É sabido ainda que em todos os estados do Brasil há diversas empresas que fabricam insumos para o PIM/ZFM e outras empresas que vendem produtos nela produzidos. Igualmente, os impostos gerados têm possibilitado a execução de investimentos em escolas, hospitais, transporte e demais serviços públicos.
Em suma, a Zona Franca de Manaus não é apenas do Amazonas e tampouco da Amazônia Ocidental, mas do Brasil e de todos os Brasileiros. Desta forma, o Conselho Federal de Economia vem se posicionar favoravelmente e afirmar que é de fundamental importância a prorrogação do modelo da Zona Franca de Manaus.